A vida introspectiva, monótona e com uma rotina incessante, como no livro “A mulher na janela” às vezes pode trazer à tona momentos vivenciados e pensamentos absurdos de coisas que podem ou não ter acontecido.
Em suma, é possível diferenciar a realidade tátil de uma realidade que está nos cantos mais obscuros da mente humana e que se reproduzem na experiência física e mental. Mas quando essa falsa realidade se torna parte do dia a dia e não há mais diferenciação do que é imaginação e o que é realidade, acontecimentos inesperados podem ser tornar cada vez mais caóticos.
“Não é paranóia se está realmente acontecendo”
A personalidade humana é um objeto que possui infinitas variações e, por conta disso, algumas questões podem ser confundidas com outros tipos de personalidade.
O que é realidade? O que é a imaginação? Existe alguém em perigo? Quem está no controle? Nada realmente é que parece…
“A mulher na janela” se inicia com a personagem principal, Anna Fox, examinando constantemente os seus sentimentos, emoções e reações, navegando na sua própria densidade emocional. O que torna o começo um pouco massante, já que a realidade é o próprio pensamento introspectivo e não há outros tipos de ações simultâneas.
Anna Fox é uma mulher cuja a mente dela está comprometida devido a um forte estresse pós traumático após um acidente que ocorreu com sua família em uma viagem. O trauma foi tão intenso que desenvolveu nela uma “doença” mental chamada agorafobia, onde a maior das consequências é não conseguir sair de casa por medo da vastidão do mundo externo.
“É como se o lado de fora estivesse tentando entrar.”
Ela já vive assim há quase um ano e sua vida basicamente é resumida a observar a vida dos vizinhos, pela sua janela e através das lentes de sua câmera de longo alcance, anotar acontecimentos incomuns e interessantes sobre as famílias, assistir filmes antigos, conversar em sites, jogar xadrez online e beber uma ou duas taças de vinho. Talvez até mais.
Contudo essa rotina é abalada quando uma nova família se muda para o bairro, mais especificamente para a casa do outro lado do parque onde ela mora. Bem a vista da sua melhor atividade rotineira.
“Me sinto morta também. Uma morta viva que vê a vida acontecer ao seu redor, incapaz de participar dela.”
Mas essa obsessão pela nova família, pode se tornar um dos pesadelos mais obscuros de Anna, porque ela observou algo que a deixou transtornada. O seu maior desafio será distinguir o que é realidade da imaginação para conseguir convencer a todos de que não está ficando louca e mostrar a realidade sobre o que viu.
“Algo está acontecendo comigo, através de mim, algo perigoso e novo. Uma planta venenosa que já criou raízes e agora está crescendo, se expandindo, enroscando-se na minha cintura, apertando meus pulmões e meu coração.”
A.J. Finn soube muito bem como montar a trama perfeita para “A mulher na janela”. O contexto e os elementos da história se conectam de uma forma concreta e não há nada que esteja deslocado ou não faça sentido.
As manipulações feitas durante a leitura impedem que façam você pensar qualquer outra coisa sobre o momento, e detalhes importantes, mas pequenos, acabam passando um tanto despercebidos, o que torna ainda mais incrível a linha do tempo. A surpresa é constante a cada capítulo lido e tudo possui um propósito, seja conectar um objeto a um personagem, a um acontecimento ou não.
5/5
Ano de publicação: 2018
Número de páginas: 352
Autor: A. J. Finn
Editora: Editora Arqueiro
Idioma: Português