Os Montgomerys são uma família de empreiteiros, arquitetos e engenheiros que moram em uma pequena cidade chamada Boonsboro. Cheios de talentos, Beckett, Owen, Ryder e sua mãe estão reformando a antiga pousada da cidade, que já teve seus dias de encanto, mas que ficou abandonada por anos até a família Montgomerys decidir dar uma nova vida ao prédio e reinaugurar o local, trazendo um cenário de luxo e toques vintage.
Beckett nasceu em Boonsboro e ergueu toda a sua vida de arquiteto reformando e construindo projetos na pequena cidade, e consequentemente conhece todas as pessoas e suas vidas rotineiras. Mas a única pessoa que consegue chamar a sua atenção e mexer com os sentimentos dele é a sua antiga amiga de escola, Clare Brewster.
Depois que Clare perdeu seu marido na guerra e retornou para Boonsboro, ela retomou o contato com seu velho amigo Beckett. Desde a reaproximação entre eles, com visitas e cafés na livraria que Clare cuida e eventuais tours pelo espaço da pousada que ainda está sendo reformado e cheio de entulhos, Beckett tem a sensação de que a sua vida monótona precisa mudar.
“Às vezes a gente simplesmente sabe que algo é certo, e às vezes precisa aceitar que as coisas acontecem por algum motivo. Nesse caso foi pelas duas razões.”
Mesmo com medo de ser rejeitado, Beckett decide aproveitar a proximidade de Clare para demonstrar os sentimentos que ficaram guardados por anos a fio, desde que tinha apenas 16 anos e eram amigos na escola. Tendo que conciliar família, trabalho e projetos pessoais, Clare e Beckett vislumbram um futuro novo e promissor juntos, porém a tranquilidade da cidade pode ser abalada quando mistérios na pousada começam a aparecer e o perigo pode estar mais perto de Clare do que Beckett imagina.
Um Novo Amanhã é o primeiro livro de Nora Roberts que leio, por isso não tenho grandes parâmetros para escrever sobre a construção da narrativa ou a forma de abordagem da autora sobre as histórias nos livros. Já faz um bom tempo que eu não leio um livro de romance leve, e isso provavelmente influenciou a minha visão sobre ele, já que em momento algum eu parei para refletir sobre toda a utopia construída.
A leitura dele é muito fluida e tranquila, os personagens não são cansativos e as partes românticas são cativantes de certa forma, apesar de ser algo que se encaixa apenas no contexto de mundo ideal. Alguns detalhes são bem clichês e não consegui evitar sorrir quando aconteciam conversas bobas e apaixonadas entre Clare e Beckett.
“Era estranho, pensou, que esses sentimentos – negligenciados, ignorados, reprimidos – pudessem resistir por mais de uma década. Achava que a base deles sempre estivera no mesmo lugar, talvez aguardando. Não importava quanto ambos tivessem mudado, evoluído, reestruturado suas vidas. No fundo, sempre permaneceram o que eram.”
Contudo, nesse livro eu tive a sensação de que tudo era perfeito demais, como se além da pousada, os personagens, a população e a cidade de Boonsboro tivessem sido medidos e construídos no tamanho ideal e com as personalidades ideais para encaixar na história perfeita.
Boa parte da história é construída com esse ar sublime de uma cidade pequena e pacífica, na qual a população que mora nela leva uma vida tranquila em que todos se conhecem e se ajudam. Além disso, a família dos Montgomerys é ainda mais perfeita e idealizada, pois todos eles são ricos, cheios de talentos, cursaram as melhores faculdades, moram em locais esplêndidos e possuem inúmeros imóveis sob o comando e gerência deles.
Para não dizer que todos são perfeitos, um dos irmãos contradiz as regras com seu temperamento explosivo e orgulhoso, mas nem a personalidade faz com que ele fuja tanto dos padrões da narrativa. E sintetizando ainda mais essa dose exagerada de perfeição, a autora criou um conflito que só acrescentou e aumentou ainda mais as características idôneas de Beckett, das amizades de Clare e da pequena cidade em que moram.
Outra sensação sobre o livro é que Nora quis criar um buraco de minhoca para interligar o passado da pousada e o momento presente de reforma, mas a criação de um personagem assombrado ficou fora da curva da narrativa e acabou se perdendo no meio do caminho. Para mim, essa parte da história ficou com um grande ponto de interrogação, afinal, quem é ela? Por que ela está ali? Qual o significado dela naquele contexto? Vai ter alguma explicação nos próximos livros da trilogia? Como ela surgiu e porque ninguém busca explicação para a aparição dela?
São perguntas que durante toda a leitura busquei explicações, mas não encontrei nada aprofundado.
“Talvez estivesse apaixonada havia mais tempo, pensou. Mas aquele fora o momento em que soube, sem sombra de dúvida, que o amava. Conseguia imaginar Beckett ao seu lado no mês seguinte, no ano seguinte… para sempre. Uma amanhã que ela gostaria de viver. Um novo amanhã.”
Apesar de não gostar muito de romances utópicos onde os personagens são a cópia e o reflexo de algo perfeito, Um Novo Amanhã me deixou com um sorriso solto durante toda a leitura. O que ficou em aberto foi apenas a questão sobre a construção da história de forma mais coerente e um pouco mais próxima da realidade, com personagens que protagonizem uma vida real com obstáculos, dificuldades e realizações, longe da perfeição idealizada que foi criada em Um Novo Amanhã.
Além disso, eu diria que a leitura poderia permanecer apenas nesse primeiro livro, já que a autora não cria uma tensão aberta e verdadeira para dar continuidade a história. Assim como os clichês que surgiram durante o livro, a continuação é algo óbvio.
3/5
Ano: 2016
Páginas: 320
Autor: Nora Roberts
Idioma: Português
Editora:Arqueiro