Popular e inteligente. Riquinha mimada. Assassina cruel. Vítima das circunstâncias. Cúmplice de um massacre terrível. Afinal, quem é Maja Norberg? Assassina.
“Areia movediça” é o primeiro livro publicado pela Intrínseca e escrito pela sueca Malin Persson Giolito. A narrativa foi ganhadora do prêmio de Melhor Ficção Policial Nórdica em 2016 e se tornou a primeira produção original da Netflix na Suécia.
A história começa com Maja, a personagem destaque, em seu primeiro julgamento após o massacre que aconteceu em uma escola particular luxuosa de Estocolmo. Ela é a culpada por ter planejado a chacina que matou 4 jovens estudantes, incluindo o seu namorado Sebastian, sua melhor amiga Amanda e seus colegas de classe.
“Soou muito alto para ser real, não havia espaço para tanto barulho, aquilo explodiu na minha mente. Eu vi o que aconteceu, mas não conseguia entender o que estava vendo. […] Eu a ouvi morrer, ouvi todos morrerem, cada um deles, todos estavam mortos, não estavam? Eu os vi morrer. Todos, exceto eu, morreram, mas há alguns instantes estávamos todos vivos.”
Ela não consegue esquecer as imagens terríveis daquele dia e as lembranças a perseguem toda vez que fecha os olhos. Após nove meses reclusa em uma prisão e preferindo a morte a ter que reviver os acontecimentos do passado, ela tem a chance de contar a sua versão da história e provar que a sua presença na cena do crime não tem nada a ver com o que todo o país e todos jornais estão pensando sobre a “assassina cruel que matou seus próprios amigos”.
E todo o julgamento poderá revelar muito além do que todos podem imaginar…
“As pessoas são estão interessadas no que as outras dizem ou pensam, pelo que elas passaram e a quais conclusões chegaram. As pessoas estão interessadas em ouvir apenas o que acham que já sabem.”
Os primeiros capítulos são passados durante a primeira semana do julgamento de Maja, inteiramente dentro do tribunal e em sua cela na prisão, onde é possível descobrir pequenos fragmentos do que aconteceu no dia da tragédia.
Narrado em primeira pessoa, a personagem-narradora demonstra a sua visão pessoal e impessoal das circunstâncias, já que toda a história é contada ao redor de sua vida durante os meses passados.
Contudo, nenhum dos fatos apresentados ao leitor-espectador é inteiramente claro, deixando apenas suposições do ocorrido. Em alguns momentos isso se torna interessante e instiga nas próximas páginas, mas em outros pode tornar a leitura arrastada, pois se torna repetitiva.
“Eu me lembro demais. E a verdade, até onde vocês estão interessados em saber, é que eu sou a culpada.”
O livro começa a se tornar viciante a partir do momento em são apresentados flashbacks das lembranças de Maja antes e após as mortes em seu colégio. Com tantos mistérios que envolvem a trama da personagem e os segredos escondidos por ela, a leitura se torna leve e impossível de largar, sempre deixando um grande ponto de interrogação nas próximas páginas.
As revelações do que é verdade e o que é mentira são feitas aos poucos, mas a verdadeira razão para o que aconteceu só é revelada nos capítulos finais do livro.
Outro ponto importante e que merece destaque são os assuntos abordados durante a narrativa. Temas do mundo adolescente como depressão, drogas e pressão familiar, abuso e xenofobia são retratados de forma explícita para o leitor e pode-se observar críticas sócio-econômicas durante várias discussões entre personagens.
O que torna o livro uma aproximação do que é real, do que realmente acontece aqui fora e ao redor do mundo.
As características dos personagens são próprias e particulares e chamam bastante atenção durante a leitura.
Maja possui uma personalidade forte, fiel, honesta e de bom coração apesar de todas as circunstâncias. Ela sabe o que deseja, corre atrás do que quer e faz o que acha que deve ser feito sem pensar no que os outros podem achar dela.
Sebastian é um personagem adorável, mas que depois se torna cruel e de caráter duvidoso. Pouco entende-se sobre ele além dos problemas psicológicos causados pela falta de amor do pai, pressão familiar e social e drogas usadas sem moderação durante os momentos livres e de lazer.
Os coadjuvantes possuem suas próprias características de personalidade, mas nada tão definido e forte quanto as de Maja e Sebastian. Elas são essenciais para o contexto da história, mas passam despercebidas muitas vezes quando os personagens principais estão em conjunto com eles.
Para os amantes de ficção policial, fica a dica do blog sobre “Areia movediça”. Há suspense, mistérios, segredos não revelados e a dose perfeita de psicopatia.
5/5
Ano: 2019
Páginas: 352
Autor: Malin Persson Giolito
Idioma: Português
Editora: Intrínseca