A busca constante da Netflix por roteiros e produções inteiramente originais da plataforma tem deixado à vista os resultados da sua escolha por vários títulos e narrativas lançados. A série Luna Nera, ou Lua Negra em português, lançada esse ano, é originalmente italiana e teve sua produção narrativa desenvolvida por Francesca Manieri, Laura Paolucci e Vanessa Picciarelli, uma equipe composta em sua maioria por mulheres.
A história passada em 1600, em um vilarejo da Itália, acompanha a trajetória de Ade, uma jovem parteira, acusada de bruxaria após pressentir o falecimento de um bebê ainda no ventre, amaldiçoando e sentenciando-a a morte antes de seu nascimento.
Forçada a fugir e com medo de ser sentenciada à morte, Ade escapa com seu irmão mais novo, seguindo as instruções dadas por sua avó para achar um esconderijo seguro. Se refugiando em uma comunidade de mulheres, escondida no meio da floresta, Ade luta entre o amor proibido por Pietro Benandanti, filho do líder dos caçadores de bruxas, e sua escolha para salvar outras bruxas, evitando a morte de mais mulheres.
Baseada no livro “As Cidades Perdidas – Lua Negra” de Tiziana Triana, a primeira temporada de Luna Nera é composta por seis episódios com duração de 43 minutos. Esse tempo poderia ter sido diminuído e transformado em episódios mais curtos, com muito mais conteúdo relevante, muito além do que nos é apresentado durante a temporada. A duração se tornou longa e cansativa, enrolando muito para chegar a um ponto simples do roteiro.
A história passada na Itália do século XVII, tinha todas as referências necessárias para se tornar um grande lançamento criado por mulheres, porém a linha de narrativa escolhida por elas deixou a desejar e se tornou apenas mais uma história genérica sobre bruxas.
O estereótipo narrativo sobre a caça às bruxas está presente durante todos os episódios, citando a soberania da igreja sobre os vilarejos e a distinção sobre o que é do bem e o que é do mal, a perseguição às mulheres por grupos religiosos que condenam certos tipos de atitudes à bruxaria, sendo assim, são sentenciadas à morte, e o ceticismo de quem não acredita em bruxaria e tenta explicar todos as questões pela racionalidade.
Com tantos chavões, a série deixou de lado o seu potencial de criar um contexto concreto, ou até mesmo metafórico, para criar uma história tão igual quanto outras do seu gênero, com a única diferença de ter mulheres empoderadas ao invés de mulheres vilãs e más.
É importante reforçar que elas são responsáveis pelo poder que possuem e que passam seus conhecimentos para outras gerações de mulheres, tornando-as fortes para lutar contra o machismo da sociedade que condena quem não segue as linhas religiosas pregadas. Porém a fuga para se esconder continua atrapalhando um bom desenvolvimento da narrativa. Se elas são poderosas, apesar de terem um grupo pequeno de bruxas, por que se esconder?
Acho que o empoderamento poderia ter ficado mais claro se elas usassem seus poderes para se tornarem parte de um todo, lutando por seus direitos e não apenas fugindo da sentença de morte.
“Abbiamo tutte una forza, dobbiamo solo scoprirla e non averne paura”. (“Todos nós temos uma força, só precisamos descobri-la e não ter medo dela”.)
Apesar de tudo, a cenografia da temporada foi bem pensada, tornando os contrastes históricos ainda mais chamativos. Os tons sépia, as cores escuras e a pouca saturação, conferiram à criação os tons medievais da época, tão extremamente necessários para nos levar para a Itália do século dezessete quanto para dar entonação aos sentimentos dos personagens e aos ambientes onde estavam.
Os cortes de cenas durante alguns episódios tornaram a narrativa bem conectada, dando ênfase aos acontecimentos simultâneos. Esse foi um ponto importante e deu peso a muitas ações e ambientações, prevendo o que iria acontecer em seguida, mesmo sem sabermos realmente qual seria aquele fim.
Há outros pontos a se destacar como a dublagem. Quem for assistir, aconselho que assista na língua origem, pois a dublagem, apesar de ser boa, não é bem sincronizada e muitas falas ficam perdidas enquanto o personagem ainda está mexendo a boca.
Outro fato que me incomodou um pouco foram as reações exageradas e até um pouco robóticas durante certas cenas. Algumas foram muito ensaiadas e deram a impressão de serem cenas de novelas mexicanas, onde as ações, muitas das vezes, são forçadas para dar ênfase a algum acontecimento.
As expectativas giram em torno da próxima temporada, já que a série foi pensada para uma trilogia. E apesar de não haver um anúncio oficial divulgado pela Netflix para esse acontecimento, espero que os próximos roteiros tragam assuntos importantes e acontecimentos mais chocantes.
https://youtu.be/hlvnM8tiGP0
2/5
FICHA TÉCNICA
Direção: Francesca Comencini, Susanna Nicchiarelli, Paola Randi
País: Itália
Ano: 2019
Elenco: Antonia Fotaras, Giorgio Belli
Gênero: Drama
Distribuição: Netflix