Bem no comecinho do livro acompanhamos a trajetória de Guinevere até Camelot, onde ela se casará com o rei Arthur. Rodeada por homens que garantiam que a futura rainha chegasse sã e salva no castelo, Guinevere se sente sozinha e com medo, sempre desconfiada de tudo ao seu redor, principalmente porque seus poderes devem ser escondidos a todo custo. Sua única companhia feminina é sua fiel acompanhante, Brangien, por isso ela faz de tudo para ser o mais amigável possível e ter com quem conversar durante o longo caminho.
Ninguém sabe que Guinevere é uma bruxa enviada por Merlin para ajudar e proteger Arthur e seu reino de algo que está prestes a acontecer: uma magia que somente ela poderá enfrentar. Merlin há muito anos fora expulso de Camelot por causa de suas magias obscuras e, por isso, sua missão só poderá ser executada com a ajuda de Guinevere e seus poderes especiais.
“Nada neste mundo é tão mágico e tão assustador quanto uma moça prestes a se tornar mulher.”
Ninguém além de Arthur sabe que Guinevere é uma bruxa, pois com a expulsão de Merlin, todas as magias, poções e feitiçarias foram proibidas, e quem fosse pego praticando tinha apenas dois destinos: ser expulso para sempre do reino ou ser morto, dependendo do nível de magia feita. Contudo, Arthur sempre admirou os feitiços de Merlin e depositou toda a sua confiança em Guinevere, recebendo-a não apenas como sua esposa, mas também como uma amiga de longos anos, mesmo sem realmente conhecê-la.
Diferentemente de alguma lendas arturianas, esse livro trouxe cenários, ações e personagens menos complexos que prometem dar foco central a uma personagem feminina, de grande poder e influência na história. Contudo, o começo do livro é lento e as primeiras 200 páginas parecem se estender a ações sem relevância alguma. Todas as magias empregadas por Guinevere tendem a ser de grande valor para a história, mas são ofuscadas durante o tempo, e isso deixa um pouco na dúvida se ela realmente está fazendo algo que pode salvar a si mesma, a Arthur e o reino de uma magia que nem mesmo ela conhece pessoalmente e só ouviu falar pelas memórias de Merlin.
“Certas coisas não podem crescer cercadas por muros.”
Essa frase, para mim, é a que define o que realmente aconteceu com o empoderamento de Guinevere. Ela saiu de sua própria liberdade para viver o destino que Merlin e Arthur decidiram para ela. No começo ela tinha tudo para ser uma bruxa sensacional, mas de repente ela virou a mocinha que o reino esperava que ela fosse, sua personalidade mudou completamente em prol do rei Arthur e qualquer falta de atenção dele para com ela já era motivo de questionamentos do tipo “será que ele não gosta de mim?”.
Eu consigo enxergar que ela além de bruxa e mulher ela é um ser humano que possui sentimentos, mas essa súbita dúvida do que ela realmente é ficou forçada, e isso só aumenta mais quando a narrativa mostra com veemência que Guinevere não é nada mais do que uma mera ferramenta de magia para seu mentor, Merlin, e o rei Arthur.
Faltou uma construção mais impactante, principalmente porque ela é a protagonista.
“A verdade a deixou com um vazio por dentro. Não era rainha nem feiticeira. Nem protetora nem guerreira. Era apenas um fardo.”
Apesar disso, alguns dos personagens secundários são incríveis, como, por exemplo, o Cavaleiro dos Retalhos. Esse foi o personagem que mais me chamou atenção durante toda a leitura, porque ele passa uma ar confiante, empoderado e com uma incrível força, a mesma que faltou em Guinevere. É como se toda a essência que deveria ser da protagonista tivesse sido drenada para outro personagem na história.
Os cenários descritos são dignos de uma real história de fantasia e se você tiver uma imaginação bem fértil poderá ter em seus pensamentos as imagens dos locais com clareza. Esse ponto no livro é essencial e a autora soube construir muito bem (até melhor do que a protagonista *novamente*).
Para mim, a parte mais perfeita foi o final. A autora soube dar a reviravolta que eu esperava que tivesse, e quanto a isso fiquei muito satisfeita. Foi o impulso necessário para que a história ganhasse uma possível sequência com mais ação e menos blá blá blá. Agora só resta aguardar o segundo volume e ver se as expectativas serão alcançadas, pois Guinevere, apesar de não parecer, tem um grande potencial de evolução na história.
3,5/5
Ano: 2020
Páginas: 384
Autor: Kiersten White
Idioma: Português
Editora: Plataforma21