Três incansáveis anos. Foi o tempo que Gabe passou dirigindo por diversas rodovias a procura de sua filha Isabela, após ela e sua esposa terem sido brutalmente assassinadas dentro de casa. Porém, o que deixa Gabe apegado a sua própria esperança doentia, de que encontre Izzy viva, é sua memória após alegar aos policiais que a viu dentro de um carro desconhecido enquanto voltava do trabalho. Tudo isso, antes da notícia de suas mortes terem sido dadas pela detetive. Depois de tanto tempo procurando qualquer tipo de pista ele encontra o carro do sequestrador de Izzy, mas onde estaria a sua filha? Estaria viva ou morta?
Na época, o homem magro tinha esperança. De certa forma. Aquele tipo insano de esperança que energiza as pessoas, como uma droga. É tudo o que têm. Elas a consomem como se fosse crack, mesmo quando sabem que a própria esperança se transformou em vício. As pessoas dizem que ódio e amargura vão destruir você, mas estão enganadas. É a esperança.”
O livro possui capítulos alternados com personagens distintos e que ao primeiro ver não parecem se encaixar com a história principal.
Katie é mãe solteira e tem toda a sua vida voltada para o trabalho, em uma café na rodovia, para sobreviver com o baixo salário que ganha para sustentar seus dois filhos. Seu marido a abandonou e seu principal foco é melhorar de vida e dar mais atenção às crianças, já que só as vê durante a parte da manhã quando o seu turno acaba.
Fran é irmã de Katie, porém se afastou de todos da família, cortou todo tipo de contato e ninguém mais teve notícias dela depois que partiu. Ela tem apenas uma filha, e por ser única, Fran a defende com unhas e dentes, dando a vida para salvá-la de qualquer coisa que possa fazer mal a elas. A história delas é conturbada e corriqueiramente as duas precisam fugir, e, por esse motivo, não possuem casa fixa, pois vivem se mudando.
Os primeiros capítulos do livro são pequenos e não deixam espaço para respostas. Os mistérios acontecem seguidamente, deixando você sem fôlego e ainda mais ávida(o) por soluções. Existem três histórias por trás dos mistérios que envolvem a morte da filha de Gabe e elas se encontram de forma perfeita durante a narrativa.
O capítulo um começa com uma breve narração sobrenatural e que a princípio não faz sentido com o resto da história, e esse fato ocorre por muitos outros até que enfim faça sentido e esteja conectado ao histórico de Gabe. A autora soube exatamente como criar raízes narrativas individuais que se unem, em algum momento, e nutrem a história de modo sen-sa-ci-o-nal, não há outra palavra para descrever.
Eu já tinha lido a respeito do modo como a C.J Tudor escreve seus livros, porém lendo “As Outras Pessoas” eu fiquei encantada! Já li diversos thrillers de Harlan Coben e “A Mulher na Janela”, que eu amei demais, então não tinha grandes esperanças para esse livro, mas ele me surpreendeu de forma extremamente positiva e superou qualquer expectativa que eu possa ter criado.
Os personagens são memoráveis e possuem características únicas que tornam a trama ainda mais instigante. Todos eles estão envoltos de mistérios e isso fica ainda mais claro quando há o encontro deles pela história. Querendo ou não, eles estão bem amarrados aos acontecimentos.
O enredo é pesado e em muitos momentos prendi a respiração. A autora trata de modo sutil, mas claro, assuntos como homicídios, violência infantil, alcoolismo, drogas e navega brevemente pela deep web para trazer características ainda mais profundas. Em contrapartida, existem momento em que ela trata do perdão, fazendo o personagem, e até mesmo nós leitores, seguir em frente deixando o passado para trás e perdoando quem fez o mal no presente, para que possa recomeçar.
Eu a vejo o tempo todo. Em cada sonho. Em cada pesadelo. […] Você está desaparecendo, sumindo das minhas lembranças, porque as lembranças são tão fortes quanto as pessoas que se agarram a elas. E eu estou cansado. Não sei se vou conseguir me agarrar por mais tempo.”
O único ponto negativo quanto o livro foi que, em meio a tanto mistério, há histórias sobrenaturais que ficaram mal contadas. Não entendi qual foi o verdadeiro propósito de existir esse viés no meio da história, até porque ele se conecta com a principal, mas não faz sentido algum já que não é abordado de forma mais profunda. Fica um ponto de interrogação e vários espaços em branco quanto a esse assunto e que, na minha opinião, não acrescentou em nada, pois não faz diferença ter essa sobrenaturalidade em um livro que por si só já mexe com o psicológico de quem lê.
4,5/5
Ano: 2020
Páginas: 304
Autor: C.J. Tudor
Idioma: Português
Editora: Intrínseca