Palácio da Traição é o segundo volume de uma trilogia e continuação de “Operação Red Sparrow”, mas que pode ser lido separadamente, apesar de possuir alguns fragmentos do livro 1. Apesar de não ter consciência de que esse livro possuía uma história prévia em um volume anterior, a leitura foi bem satisfatória. É quase impossível ficar perdida(o) nos acontecimentos porque a narrativa é muito bem amarrada e trata de uma missão completamente diferente.
Dominika Egorova é uma ex-bailarina e espiã russa que se aliou ao Serviço de Contrainteligência Americano por perceber que seus superiores não davam o devido valor ao seu trabalho. Eles a veem como a melhor ferramenta construída para alcançar objetivos: uma mera pardal que deu sorte de ser inteligente, decidida e que sabe usar sua sedução, ou a “sexpionagem”, para adiantar os objetivos estratégicos de suas missões. Seu dom de ler a aura das pessoas, distinguindo os sentimentos em cores, torna sua espionagem e relação com superiores muito mais efetiva, pois pode manipular sua respostas de acordo com o que esperam dela.
Forte, destemida, confiante e fiel aos seus objetivos e amigos, ela é o alvo central de olhares invejosos, atenciosos e perigosos que testam sua habilidade de sobrevivência e patriotismo frente ao jogo de poder entre Rússia, Oriente Médio e Ocidente. Sua única fonte segura são seus amigos americanos para quem trabalha e seu amor proibido Nate, responsável pela segurança de seu ativo de maior importância: a própria Dominika.
Nate é um espião americano do Serviço de Contrainteligência Americano e recrutador de Dominika. Inteligente, cauteloso e com todos os seus movimentos friamente calculados, ele é uma pessoa extremamente profissional com os espiões pelos quais é responsável. Depois de perder seu último ativo em uma emboscada de russos, Nate não suporta a ideia de perder Dominika também, porque, além dos sentimentos de responsabilidade sobre ela existe um sentimento ainda maior: o amor que nutre pela sua espiã mais valiosa.
Ambos apaixonados um pelo outro, eles precisam lidar com a frustração de não poderem se relacionar intimamente e se absterem na transmissão de informações confidenciais. Qualquer passo em falso que revele a relação entre os dois é fatal, a mistura entre sentimentos e missões secretas é proibida, já que pode comprometer não só a segurança dos ativos, como a de todos os envolvidos na missão.
O principal objetivo de Dominika é derrubar o Kremlin, um local de arquitetura majestosa com tetos folheados a ouro, gigantescos salões preenchidos de cima a baixo com o ar pestilento da mentira, da crueldade e da ambição sem limites. Conhecido também como o Palácio da Traição, local onde Putin controla seu poder e seus interesseiros subordinados.
Com um objetivo tão imperioso, Dominika se vê diante de uma possível reviravolta para conseguir o que quer: a venda de pisos anti sísmicos para iranianos, liderada pelo projeto de Jamshidi, um dos maiores cientistas do Oriente Médio. A construção de uma usina nuclear iraniana abala os poderes da Rússia e de Putin e ela usa isso para formular uma operação altamente perigosa para enganar os russos e iranianos e passar informações ultrassecretas para os americanos.
Depois de ter visto o filme “Operação Red Sparrow”, eu não imaginava qua Palácio da Traição era sua continuação literária. Quando comecei a ler encontrei diversos fragmentos de lembranças do livro anterior e a princípio fiquei relutante de que a história não fosse tão diferente assim, mas com o passar dos capítulos percebi que seria completamente o contrário do que eu poderia imaginar.
No começo, com a relutância, a leitura foi cansativa e demorou muito até que eu ganhasse interesse pela narrativa. O livro consumiu duas semanas inteiras para que eu conseguisse finalizar, devido aos diversos termos e frases em russo. Toda a história é bem detalhada, principalmente se tratando das missões, que exigem um grau de complexidade maior, mas isso em momento algum atrapalhou. Não é um ponto fraco, mas exige muito mais atenção e paciência, pois qualquer desvio de atenção pode deixar um detalhe importante passar despercebido.
Apesar de amar gêneros de crime, suspense e mistério, Palácio da Traição não prendeu tanto a minha atenção como eu esperava. Foi uma leitura comum, muito bem elaborada, mas que não me deixou aflita para saber o que poderia acontecer. Acho que o fato disso ter acontecido é porque o assunto em si é muito mais sério, politicamente falando, não tão misterioso como o caso de um assassinato em massa em uma cena de crime que não deixa pistas. A construção da teia de acontecimentos nesse livro é enorme, uma coisa sempre esconde outra e existem caminhos completamente opostos. Isso sim deixou a minha curiosidade em alerta, já que não existia o certo ou o errado, qualquer caminho poderia ser explorado.
“O futuro era escrito em água corrente com os dentes de um ancinho. Ninguém era capaz de prevê-lo”
A personalidade de Dominika foi muito bem construída ao redor da teia desse livro, ela é uma personagem feminina altamente poderosa, segura de si e importante para todo o desenrolar da história, a protagonista estrela que não deixa um ponto sequer sem nó.
Porém, uma coisa que me incomodou bastante foram as receitas ao final de cada capítulo. Não achei que encaixou bem com a proposta do livro, apesar de aproximar a ficção da realidade. Em todas as páginas pulei elas e não me arrependo, pois isso diversas vezes desviou minha atenção dos acontecimentos anteriores.
Para quem curte espionagem, Palácio da Traição com certeza deve ser incluído na lista de leitura. Quanto a continuação traduzida de “O Candidato do Kremlin”, não sei bem o que esperar, mas espero que seja ainda mais envolvente.
3,5/5
Ano: 2020
Páginas: 448
Autor: Jason Matthews
Idioma: Português
Editora:Arqueiro