A vida de Leena nunca mais foi a mesma após a morte de sua irmã Carla, que sofria de de câncer e faleceu após inúmeras tentativas em vão de lutar contra a doença. Marcada pela perda e pela dor, Leena encontrou a saída para o seu luto no trabalho, mas nem mesmo os seus projetos e as grandes reuniões de apresentação, que são o seu forte, ajudaram a conter seus frequentes ataques de pânico.
“Você estava se recuperando. Ainda está se recuperando. Sempre estará. E não tem problema. É apenas parte do que faz de você você.”
Não conseguindo lidar com as apresentações em público, a pressão sobre resultados positivos causou uma catástrofe, que ocorreu durante uma reunião de negócios com um importante cliente, e isso fez com que Leena recebesse forçadamente dois meses de férias remuneradas, para que pudesse encontrar a si mesma novamente. Sem ter o que fazer e sem ter como recusar a oferta, ela decide tentar aproveitar as suas férias em um lugar especial: a casa de sua avó, um dos pequenos espaços familiares que nunca mais visitou após a morte de sua irmã.
“Quando sentimos falta de alguém, é fácil esquecer que esse alguém é mais do que só a pessoa de que nos lembramos: que tem facetas que só mostra quando há outras pessoas por perto.”
A avó de Leena, chamada Eileen Cotton, é uma senhora de quase oitenta anos que se separou do marido recentemente após ele decidir fugir com uma professora de dança, que era pelo menos três vezes mais jovem do que ela. Vivendo sozinha, em uma pequena casa na zona rural de Yorkshire, Eileen está em busca de uma nova aventura para encontrar um novo amor com quem queira passar os próximos poucos anos que restam da sua vida.
Após uma rápida visita a Yorkshire, Leena descobre os planos de sua avó e decide fazer uma proposta inusitada: as duas trocariam de vidas. Eileen, então, prepara suas malas e vai em busca de uma aventura amorosa na grande Londres, no apartamento de sua neta, enquanto Leena tenta esquecer o trabalho e seus projetos, vivendo dois meses no interior na casa de sua avó e realizando seus projetos.
Depois de se prepararem para viver a vida uma da outra, Leena descobre que viver em um lugar pequeno em que todos se conhecem pode ser uma das piores experiências para tentar se colocar no lugar do outro. Ao mesmo tempo em que Leena tenta se adaptar aos vizinhos fofoqueiros e invasivos, Eileen tenta se acostumar com a ideia de ter tantos acessórios tecnológicos à sua disposição e começa a enxergar como os idosos de Londres podem sofrer em um local cercado de pessoas agressivas e desrespeitosas.
Uma coisa é certa: Eileen e Leena sentem que falta uma parte de si mesmas, uma parte que foi embora após a morte de Carla, e que precisam encontrar novamente para redescobrir suas vidas e aprender a perdoar.
“Talvez consertar uma à outra seja a linguagem do amor da família Cotton.”
A Troca é um dos romances que mais achei fofo e inspirador, pois trata de forma muito delicada a questão do luto, do perdão, da dor e da dificuldade que existe para se reencontrar após perder alguém especial na vida. A história tem um tom delicado, sensível e doce e aborda com muito cuidado todo o processo de reencontro pessoal e a abertura dos personagens para novos sentimentos inexplorados.
“Depois que a gente aceita a dor, fica um pouco mais fácil suportá-la. É que nem quando relaxamos os músculos em vez de tremermos quando está frio.”
Mesmo se tratando de uma história fictícia, a autora conseguiu trazer para “A Troca” uma narrativa ligada à realidade, detalhando toda a dificuldade dos personagens, os processos, as tentativas, os erros e os acertos na vida, de modo que trouxesse vivacidade e reflexos do mundo real para o livro.
É quase impossível dizer que Eileen é uma senhora de quase 80 anos se a narrativa não ficasse lembrando disso em certos momentos. Eileen possui uma alma jovem, apesar da sua idade, e é muito divertido ver que ela tem sentimentos tão vivos que poucas pessoas de idade teriam se estivessem no lugar dela. Ela se dedica com garra a tudo que faz, até os mínimos projetos, como o seu pequeno caderno de anotações, e nada a impede de ser quem ela deseja e alcançar o que sonha.
A personagem de avó se contradiz completamente aos padrões e foge do estereótipo de delicadeza, problemas de saúde, solidão e monotonicidade de uma vida idosa. As características de Eileen trouxeram uma visão modernizada deste papel e conseguiram tornar a personagem ainda mais interessante e amável, pois não deixou a delicadeza e o conhecimento de uma vida já muito bem vivida.
É como se Eileen tivesse voltado a ser jovem novamente e Leena não fosse mais uma adulta, mas uma adolescente passando por diferentes dificuldades de uma transição para a idade adulta, com uma rotina de trabalho estressante,mudanças na vida amorosa e problemas familiares, que são tão comuns a todos.
Apesar de Leena ter o nome em homenagem à sua avó, as características entre elas são distintas. Eileen tem uma vivacidade incrível dentro da história e confesso que gostei muito mais do jeito único dela do que o de Leena. A personalidade de “vovó moderna” sobressai a todas as personalidades e humores complicados dos jovens e isso fez com que a leitura se tornasse fluida e interessante.
O livro traz bastante reflexões sobre a vida e principalmente sobre os sentimentos humanos dos quais todos nós estamos vulneráveis, e poderemos vir a sentir algum dia. É uma história, que apesar de ser um tanto clichê, pode fazer com que o leitor enxergue o momento certo de desacelerar e comece a tratar com mais cuidado a vida e reparar a beleza dela, afinal, nunca é tarde para recomeçar e agradecer.
“Quando as pessoas falam sobre perda, sempre dizem que você nunca mais será o mesmo, que aquilo vai mudar você, que vai deixar um buraco na sua vida. E sem dúvida isso é verdade. Mas, quando perdemos alguém que amamos, não perdemos tudo o que essa pessoa nos deu. Ela deixa alguma coisa com a gente.”
5/5
Ano: 2020
Páginas: 352
Autor: Beth O’leary
Idioma: Português
Editora:Editora Intrínseca