Após se sentir aliviada com a morte de seus pais, Elsie jurou que nunca mais sofreria na vida. Apesar de fugir dos pesadelos do passado, ela jamais imaginaria que o seu maior tormento começaria apenas algumas semanas após o seu casamento. Com a morte precoce e inexplicável de seu marido, Elsie se vê obrigada a mudar para a antiga mansão da família Bainbridge e recomeçar a vida em um local enorme, isolado e congelado por horrores e mentiras.
Cercada por antiguidades, Elsie decide reformar a casa da família do seu falecido marido e dar vivacidade ao local, transformando-a em um ambiente familiar novamente. Durante sua exploração, passando por diversos cômodos em andares diferentes, sua curiosidade é congelada por uma porta trancada, sem chaves e que exala ruídos estranhos, similares a guinchos agudos e madeira sendo raspada.
Determinada em destrancar a porta e descobrir o que está escondido lá dentro, Elsie jamais poderia imaginar que ao abrir a antiga porta, mistérios e horrores também seriam libertados, e que antigos painéis de madeira pintados, que retratavam pessoas em diferentes atividades cotidianas, iriam seguir seus movimentos, aparecendo por conta própria em cômodos aleatórios e trazendo à tona momentos cruéis do passado.
“Talvez fosse o luto que a fizesse ver coisas? O luto tinha um estranho efeito sobre a mente – era o que se dizia. Mas, depois de tudo o que havia enfrentado, parecia improvável que a morte de Rupert pudesse desequilibrar-lá.”
A todo momento a narrativa de “O Silêncio da Casa Fria” me embalou nos pensamentos difusos das personagens e me fez criar diversas teorias sobre os verdadeiros e estranhos acontecimentos sobre a Ponte. É nítido que a autora criou conflitos propositais na teia de dúvidas que tecem a história, visto que a todo momento as ideias se tornam opostas e colidem umas com as outras, deixando o leitor completamente à deriva sobre o plot ao qual é conduzido.
Em diversas passagens a descrição dos acontecimentos me deixou com calafrios, como se pudesse sentir a frieza e o silêncio dominante do local, a confusão de Elsie, o medo de Anne e pudesse sentir cada fio de pavor e morte que a casa da Ponte exalava. Em conjunto, a narrativa ressalta cores pastéis, monocromáticas, sem vida e enfastiantes, dando ênfase a cenários frios, momentos de monotonia e desconforto.
Diante de uma possível insanidade que a leva a fantasiar acontecimentos, os médicos que cuidam do tratamento de Elsie acreditam que os “companheiros” são apenas fragmentos dos traumas vividos na Ponte, da profusão desordenada de sentimentos e por reprimir emoções desagradáveis diante da morte de seus pais, do marido e do incêndio na noite em que foi levada para o hospício.
“Nesse reino desgovernado, tudo estava de cabeça para baixo. A verdade era loucura, ultrapassava o território de imaginação saudável. E era por isso que a verdade era a sua única garantia de continuar trancafiada.”
Apesar de “O Silêncio da Casa Fria” ser separado em 3 tipos de narrativas, que alternam entre o presente, a memória de um diário e o passado de horrores vividos por Elsie, a narrativa em momento algum se torna confusa ou detalhada demais. A volta ao passado tornou a linha do tempo da história em algo uniforme e linear.
Confesso que em determinado momento do livro, minha teoria sobre o diálogo passado no hospício sofreu um baque conflituoso em relação ao que estava imaginando quando comecei a leitura, contudo a teoria foi por água abaixo logo em seguida. A autora simplesmente consegue criar um contraste incrível de suspense, te leva a criar inúmeras hipóteses ao longo da leitura e ao mesmo tempo joga um balde de água fria revelando detalhes que jamais seriam dados tão nítidos.
Todo o enredo é entregue lentamente e aos poucos os personagens revelam a tensão que envolve o passado sombrio da casa. Mas apesar dos capítulos de “O Silêncio da Casa Fria”, passados dentro do hospício, as partes da narrativa em forma de diário e a passagem das lembranças de Elsie na Ponte são as que mais transparecem os momentos de horror e traumas.
“Não se pode explicar o medo; só se pode sentí-lo, rugindo em meio ao silêncio até congelar seu coração.”
E o melhor de tudo é que o final traz um plot incompleto perfeito que deixa em aberto diversas teorias: tudo não passou de uma mentira articulada ou a história caminhou sem rumo para divagações de um luto sem resolução?
5/5
Ano: 2020
Páginas: 288
Autor: Laura Purcell
Idioma: Português
Editora: Darkside Books