Em “Guantánamo Boy”, Khalid Ahmed é um jovem de apenas 15 anos, inglês, porém sua mãe vem de uma família turca e seu pai é paquistanês. Apesar de ter morado a vida toda na Inglaterra, em Rochdale, cidade no noroeste da Inglaterra, Khalid começa a sentir na pele todo o preconceito, a intolerância e a desconfiança contra os muçulmanos após a série de ataques suicidas contra os Estados Unidos coordenados pela Al Qaeda em 11 de setembro de 2001.
Com as notícias do atentado sendo divulgadas por todos os países e cada vez mais pessoas desaparecendo sem motivo, Khalid e sua família viajam para o Paquistão a fim de ajudar suas tias a encontrarem um novo local para morar. Enquanto seu pai sai a procura de casas em bairros mais tranquilos, Khalid usa o tempo livre das férias escolares para jogar um novo jogo criado por seu primo Tariq.
Tudo era para ser apenas mais uma viagem, mas Khalid descobre que seu pai não voltou da última visita a uma casa para alugar e que está desaparecido. Com o objetivo de ajudar sua família a encontrá-lo, ele procura pelo último endereço que o pai visitou e sai em busca de respostas para o desaparecimento repentino e nada típico. Porém, Khalid vê sua vida virar um pesadelo ao ser confundido com um dos integrantes terroristas da Al-Qaeda ao passar por uma manifestação.
Ao voltar para casa, no meio da madrugada, ele é sequestrado, torturado, interrogado e levado para o centro de detenção de Guantánamo, ao leste da baía de Cuba, o último reduto de uma das prisões secretas que os Estados Unidos criaram em todo o mundo em sua “guerra contra terror”. O horror da guerra contra o terrorismo sufoca qualquer possibilidade de sair dali vivo, mas a inocência não é algo prove até que ponto chega a intolerância humana.
“Rosto após rosto o encara com o mesmo olhar de deprimente resignação. Extrema humilhação naqueles olhos escuros. Furiosos, apavorados, perdidos e esquecidos… iguais a ele.”
É surpreendente o fato de a narrativa de “Guantánamo Boy” não ser tão conhecida ou divulgada no mercado literário e, o pior, não ter o tema central do livro abordado com tanta frequência como as polêmicas dos campos de concentração nazistas, onde aprisionavam e promoviam o extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Apesar de os campos de extermínio judeus serem famosos nas histórias literárias ficcionais – como “O Menino do Pijama Listrado”, “A Menina que roubava livros” e “O diário de Anne Frank” -, a história de “Guantánamo Boy” também reflete a ignorância do preconceito e da intolerância religiosa. A narrativa aborda de forma bem dura o sofrimento de paquistaneses, islâmicos e afegãos sequestrados durante a busca e coleta de combatentes da Al Qaeda, onde muitos foram levados para a prisão de Guantánamo e impedidos de direitos por serem considerados terroristas.
O fato é que além de prisioneiros que supostamente seriam terroristas, a Prisão de Guantánamo abrigou também detentos de forma clandestina e que não tinham razão justificável para estarem detidos. Muitos deles foram trancafiados em celas sem o mínimo de higiene e alimentação essenciais e levados a crer que o próprio fato de serem inocentes não seria a razão pela qual sairiam daquele local vivos.
“Qualquer ato que se cometa com raiva, ódio, agressividade ou rudeza no coração, que fira outro ser humano, independentemente da religião, é um ato de intolerância e, portanto, não pode ser cogitado. Por motivo nenhum.”
Toda a história de “Guantánamo Boy” aborda de forma bem direta o sofrimento de Khalid e de outros homens cujos direitos lhes foram retirados, junto ao seu orgulho e dignidade. A autora soube criar cenários vívidos e emoções que demonstram toda a dor, a insanidade humana, a loucura provocada pelos interrogatórios, pela solidão, pelas ameaças e pelas agressões e, principalmente, a falta de esperança de um dia retornar a vida da qual foram retirados.
O livro em si é angustiante, mas toda a trajetória de Khalid em Guantánamo cria a curiosidade sobre o assunto e dá visibilidade para uma sessão de acontecimentos históricos reais e que poucas pessoas têm conhecimento.
5/5
Ano: 2009
Páginas: 309
Autor: Anna Perera
Idioma: Português
Editora: Editora Agir