A vida de Kaelyn tem sido dramática desde que seu melhor amigo foi estudar fora e, ao contrário dele, que foi morar no continente, ela fez o caminho inverso e voltou a morar na ilha onde nasceu. Tudo aconteceu rápido demais e, após uma briga entre eles, Kaelyn não teve tempo nem mesmo de dizer adeus. A última coisa que ela espera é não vê-lo nunca mais. Apesar disso, toda a angústia por não ter pedido desculpas pode estar ainda mais longe de ser aliviada.
Tudo começa quando um vírus letal, desconhecido e contagioso surge na ilha onde Kaelyn e sua família moram e começa a se espalhar entre os habitantes, causando centenas de mortes em poucos dias. A lista de óbitos não para de aumentar e todas as chances de sobrevivência se encurtam enquanto todo o local se torna o epicentro de uma grande epidemia.
Com a ilha fechada, sem terem para onde fugir e com o governo entregando cada vez menos suprimentos e assistência médica, a população é obrigada a enfrentar o vírus por conta própria. O hospital está sobrecarregado e o pai de Kaelyn, cientista e médico biólogo, enfrenta a linha de frente para descobrir, controlar e curar os contaminados, mas sem muita eficácia.
“Tudo tem início com uma coceira insistente. Então vêm a febre e o comichão na garganta. Dias depois, você está contando seus segredos mais constrangedores por aí e conversando intimamente com qualquer desconhecido. Mais um pouco começam as alucinações paranóicas. Então você morre.”
Apesar de tudo, Kaelyn luta para acreditar que haverá uma salvação enquanto o vírus se espalha e leva seus amigos e familiares embora. O desespero, o medo e a dor são como a doença: fortes e incapazes de serem contidos.
A premissa de “O fim de todos nós” é boa e consistente, visto que toda a narrativa possui uma clara analogia com o presente que estamos vivenciando desde abril de 2020. Mas, apesar de o livro ter sido escrito anos antes da pandemia do COVID-19, a história de Kaelyn traz cenários turbulentos e situações que, mesmo hoje, não se tornam tão diferentes do momento atual.
O medo de um vírus desconhecido que se alastrou rapidamente atingindo centenas de milhares de pessoas e que causou a morte de muitas delas em questão de dias, a falta de informação sobre o que realmente está acontecendo e o abandono do governo frente a algo muito mais sério do que estava sendo cogitado.
Todo o passado de “O fim para todos nós” retrata rigidamente o que tem acontecido durante todos esses meses de quarentena ao redor do mundo, e isso tomou proporção em um formato de diário em que Kaelyn escreve toda a trajetória da sobrevivência e da busca por uma vacina que pudesse controlar a doença e evitar mais mortes.
Apesar de o formato do livro ter sido bem pensado e caber perfeitamente à narrativa, senti que muitas vezes a personagem se deixava levar por pensamentos aleatórios e que tiravam o foco do problema principal. É perfeitamente compreensível que a autora tenha escolhido esse formato para transmitir os sentimentos de Kaelyn frente tudo que estava acontecendo e para podermos conhecer a personagem mais profundamente, adentrando todos os medos e situações pelas quais ela passou.
“A maioria das pessoas pensa que o mais assustador é saber que vai morrer. Não é. É saber que você pode ter que assistir a todo mundo que você já amou – ou mesmo apenas gostou – definhar e não poder fazer nada.”
Mas em certas partes da narrativa de “O fim para todos nós” isso se tornou, literalmente, apenas um diário e não o registro de uma epidemia com um vírus mortal, mutante e desconhecido. Em contraposição a esses momentos, os capítulos em que focam essencialmente no vírus e como ele mudou a vida de todos na ilha, são extremamente angustiantes e podem criar inúmeros gatilhos para quem não está saudável psicologicamente em relação à quarentena.
A ideia do livro foi boa, os temas abordados fazem refletir sobre o cenário atual, mas os últimos capítulos se tornaram completamente desconexos com a história e, sinceramente, poderiam ser excluídos sem pensar duas vezes. Os últimos registros de Kaelyn foram transformados em um apelo criado pela autora para dar um fim (sem sentido algum) para a história e que saiu enlouquecidamente da linha de raciocínio interessante que foi criada quando iniciei a leitura.
E apesar de “o fim de todos nós” fazer parte de uma trilogia, não vejo necessidade de continuar a leitura dos outros, por mais parecido com a realidade eles possam parecer. A autora deixou claro um final praticamente fechado e que poderia ter sido construído de maneira mais cuidadosa e inquietante para dar seguimento ao próximo volume.
3,5/5
Ano: 2013
Páginas: 272
Autor: Megan Crewe
Idioma: Português
Editora: Editora Intrínseca