O que você faria se todas as pessoas que ama estivessem mortas e você fosse obrigado a sobreviver em um mundo de confinamento e mentiras, tornando a vida e a sociedade em um ideal de sobrevivência construído nas profundezas do subterrâneo?
O ano é 2049 e Donald Keene acaba de ser eleito deputado estadual de Washington, capital dos Estados Unidos. Longe de ter se tornado o arquiteto que gostaria, Donald vê o tempo passar e encontra no governo uma forma de se tornar útil ao mundo ajudando pessoas e tentando tornar o mundo um lugar melhor.
Contudo, seu projeto acaba sendo interrompido quando o senador Paul Thurman, que ajudou Donald a ser eleito, o chama para ser o autor de um projeto ultra secreto do governo, participando não somente do projeto e construção, como também dos segredos escondidos por trás dos ideais pacifistas de uma sociedade protegida pelo medo.
“A negação é o tempero secreto desta cidade. A verdade virá à tona, ela sempre vem, mas virá misturada com um monte de mentiras. Misture verdades e mentiras e você não será capaz de diferenciá-las.”
Elevado por uma simples mudança de título, poder e importância, Donald, que a vida inteira fora um homem a quem poucos davam ouvidos, um homem com um diploma, alguns empregos, uma esposa e uma casa simples, se torna um dentre centenas com a mão em um controle maior e aceita a simples proposta de poder comandar um projeto pensado e desenhado por suas próprias mãos. Um projeto que seria usado para salvar o mundo.
Completamente cego e avulso das intenções por detrás do projeto governamental e acreditando que o edifício cilíndrico, abaixo da superfície e com cerca de cem andares planejado seria apenas usado como abrigo em caso de emergências catastróficas, Donald encara o desafio de Thurman, sem saber que estava sendo guiado por um caminho do qual ele não poderia voltar, um caminho que levaria à destruição, não somente da sua vida, como também a de toda a sociedade.
Donald continua vendo o tempo correr, os dias serem contados, porém a verdade continua escondida e cada vez mais segredos se revelam perigosos.O mundo dele tinha acabado. E um novo mundo o havia engolido.
“Todos acham que têm todo o tempo do mundo, mas nunca param para se perguntar quanto tempo.”
Um dos principais pontos a ser considerado sobre “Ordem”, antes mesmo de pontuar qualquer característica negativa ou positiva sobre a história, é deixar claro que, nesta resenha, a ordem de leitura da trilogia Silo não foi seguida por ano de lançamento da editora e sim por ordem cronológica dos fatos ocorridos na narrativa.
Levando em conta que “Ordem” é o segundo livro da trilogia e o primeiro na linha do tempo da história dos silos, a base de toda a catástrofe social contra o mundo, acredito que boa parte da narrativa tenha se desdobrado com mais detalhes entre o passado dos personagens e os erros cometidos, porém isso só poderá ser confirmado após iniciar a leitura de “Silo”.
O fato do autor criar um mundo distópico, praticamente pós-apocalíptico, com uma sociedade de sobreviventes de uma catástrofe premeditada, encoberta por políticos de altos cargos, cercada por uma gama de mentiras criadas pelo governo para encobrir os verdadeiros motivos da destruição em massa do mundo, tornou a leitura em um mar de teorias conspiratórias.
A história de Donald através dos anos foi construída de forma quase impecável e o personagem se tornou um dos mais importantes durante a trajetória dos silos, mas não posso deixar de citar que alguns detalhes, que poderiam facilmente ter se tornado um plot twist incrível, foram transformados em meras informações e isso acabou me decepcionando um pouco, pois era algo que eu jamais tinha imaginado quando comecei a leitura.
O livro em si é muito bem desenvolvido nos primeiros capítulos e traz dinâmica aos acontecimentos, porém a partir da metade até boa parte dos capítulos finais, as histórias acabam se desconectando e se tornando detalhes pouco importantes, tornando a narrativa um pouco insossa, já que os capítulos são desmembrados por silos, personagens e passagem dos anos entre cada queda.
“Quase ao mesmo tempo, na longa história da humanidade, a espécie humana havia descoberto os meios para provocar a sua destruição completa. E a habilidade de esquecer que tal destruição já havia ocorrido.”
É fato que a passagem entre uma queda e outra se faz necessária para explicar as baixas nos silos e a falta de controle crescente de uma sociedade atada a uma verdade criada pelo medo, contudo alguns pontos na linha do tempo da narrativa poderiam ter sido deixados de lado, já que pouco acrescentaram à história principal e se tornaram cansativamente repetitivos.
Apesar de tudo, as mentiras encobertas pelo governo, as teorias políticas e a guerra por poder trouxeram boa parte da realidade para a ficção, criando um mundo não só distópico, como também um retrato da busca por controle em uma criação em que alguns segredos jamais deveriam ser desenterrados.
“Donald estava chegando à triste conclusão de que a humanidade havia sido lançada à beira da extinção por homens loucos em posição de poder seguindo uns aos outros, cada um deles achando que os outros sabiam aonde estavam indo.”
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Hugh Howey
Ano: 20135
Páginas: 512
Idioma: português
Editora: Intrínseca
E se a sobrevivência dos seres humanos dependesse do deslocamento de milhares de cidadãos para uma enorme cidade subterrânea, com gigantescas telas de TV transmitindo imagens desoladoras do mundo do lado de fora e ninguém fosse autorizado a sair?