Nascida em uma família tradicional, aristocrática e com uma longa e secular linhagem de nobres franceses, Emilie de la Martinière teve uma infância digna de conto de fadas, morava em uma linda casa em Paris e era possuidora de uma riqueza herdada que estava intacta mesmo após anos de guerra. Esse era um cenário com o qual muitas garotas poderiam apenas sonhar. Emilie fora criada em um cenário de festas, visitas e chás da alta nobreza francesa, sempre arrastada por sua mãe para todos os eventos na esperança de que se tornasse tão nobre quanto Valerie.
Mas, apesar de todas as tentativas de sua mãe, Emilie sempre fora renegada; a falta de afeto por parte de Valerie e a falta de brilho nos olhos ao ver a filha criou marcas profundas que permaneceram intactas mesmo após os anos, deixando consequências na admiração e nas tentativas de ser a filha que sua mãe sempre quis ter.
Após meses cuidando de Valerie, que já não saia da cama e estava muito doente, a morte de sua mãe trouxe sentimentos estranhos a Emilie, sem saber como reagir, completamente perdida e extremamente preocupada com o que fazer com toda a herança deixada em suas mãos, já que, agora, era a única herdeira viva de toda a linhagem dos De la Martinières.
“Toda a situação do abandono e desinteresse de sua mãe, tudo aquilo parecia bastante surreal agora. Todos aqueles anos guardando aquela mágoa dentro de si. Havia permitido que aquela amargura crescesse em seu interior, como uma planta trepadeira, estrangulasse o que tinha de bom dentro de si, de seu coração, e perdera a capacidade de confiar nas pessoas.”
Tendo que lidar com todas as contas, burocracia e altas dívidas deixadas por seus pais, Emilie se vê estagnada ao próprio medo, se sentindo insuficiente, fraca e incapaz de resolver tudo sozinha, até que conhece Sebastian em um café, um inglês de Yorkshire, que chega até ela e lhe conta sobre a conexão de sua avó Constance com a família De la Martinières.
Com a ajuda de Sebastian e a curiosidade cada vez maior sobre seu passado, Emilie se vê conduzida por um livro de poemas achados na biblioteca de seu pai Édouard e pela bela história de Sophia, cujo destino mudou para sempre os segredos que foram guardados ao longo dos anos e o presente como Emilie o conhece.
“Uma coisa que aprendeu com seu passado e com seu presente era que a vida não dá a segunda chance. Ela pede, e às vezes implora, que você agarre o que ela lhe oferece, que reconheça que é bom e descarte o que é ruim.”
É a segunda vez que leio “A luz através da janela” e mais uma vez Lucinda Riley consegue me surpreender com a perspicácia e habilidade em criar cenários e personagens que se conectam perfeitamente. Toda a narrativa de “A luz através da janela” foi muito bem desenvolvida, pensada minimamente em cada detalhe e isso fez com que a história me envolvesse de tal forma, que o tamanho do livro pouco influenciou na fluidez da leitura.
A narrativa em dupla perspectiva, alternando os capítulos entre os anos – passado e presente – criou uma junção perfeita para explicar a linha genealógica de Emilie e os acontecimentos conectados em toda a história dos De la Martinières e foi o ponto chave para criar inúmeras expectativas sobre a verdadeira realidade por trás de tantos segredos.
Além disso, os personagens foram estruturados e retratados de forma que nenhum deles ficou à deriva ou em maior destaque, cada um com sua particularidade e características marcantes, que só acrescentaram dinâmica na história como um todo.
Em especial, criei uma empatia muito grande por Constance e Emilie, que são personagens extremamente fortes, independentes e que sabem exatamente o que querem, sempre ajudando o que está ao alcance de suas mãos. E apesar da diferença de época entre elas, conseguiram mostrar que, apesar de serem sempre arrastadas para um jogo de gato e rato, sem saber em quem ou no que acreditar, a esperança e força de vontade é uma dádiva em tempos difíceis.
Desde o começo de “A luz através da janela”, Sebastian nunca me deixou à vontade com sua presença e com seu interesse falso e constante durante os capítulos com Emilie. Foi mais do que nítido que as ações por trás da sua duplicidade eram propriamente e exclusivamente para suprir sua grande necessidade de mentir para todos e de frequentemente convencer que o carvão é branco e a neve é preta.
Isso também vale para Falk, que desde sua aparição me enojou com suas atitudes agressivas e pejorativas sobre tudo e todos – além do fanatismo pelo governo nazista – justificando suas atitudes ridículas em prol de um futuro livre e cheio de riquezas.
Além disso, a conexão entre Falk e Frederik e Sebastian e Alex é a pura ironia do destino e mostra como certos sentimentos, como a raiva, a rivalidade, o ódio e o rancor não mudam ao longo dos anos e só tendem a piorar conforme o tempo passa.
Em compensação com toda a conexão histórica que Lucinda Riley criou, ao final do livro senti uma falta muito grande de um encontro final, uma virada de chave, na história de Emilie com Sebastian. O término do relacionamento deles ficou com uma ponta solta na história, completamente perdido no meio de tudo e poderia ter um enredo bem mais interessante, até mesmo para que Emilie pudesse mostrar verdadeiramente a sua força e capacidade de tomar as rédeas da situação depois de meses tão difíceis em sua vida.
Por fim, todas as mentiras e mistérios criados pelas versões históricas dos acontecimentos vão se desfazendo e o plot de “A luz através da janela” se torna uma revelação surpreendente e até mesmo chocante que deu o toque perfeito para o fim da história.
Início da Leitura: 13/01/2023
Término da Leitura: 18/01/2023
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Lucinda Riley
Ano: 2012
Páginas: 544
Idioma: português
Editora: Novo Conceito
Emilie de la Martinières nasceu em uma rica e aristocrática família francesa, porém, depois da morte de sua glamourosa e distante mãe, ela se encontra sozinha no mundo e como única herdeira da grande residência em que passou sua infância, no sul da França. Um antigo caderno de poemas conduz Emilie à busca pela misteriosa e bela Sophia, cujo trágico caso de amor alterou o destino de sua família.