Primeiro de maio de 1933, uma grande nevasca fora de época desaba sobre Seattle, um fenômeno raro em plena primavera, deixando toda a cidade em estado de alerta e debaixo de neve em poucas horas do dia. Morando no subúrbio e trabalhando como camareira em um dos grandes hotéis de luxo de Seattle, Vera Ray faz de tudo para sustentar Daniel, seu pequeno filho de 3 anos.
Vivendo na miséria, ganhando pouco, com o dinheiro se tornando cada vez mais escasso e trabalhando em dobro para conseguir pagar o aluguel e sobreviver, Vera se vê obrigada a deixar seu filho sozinho em casa para poder cobrir o turno da noite na limpeza do hotel em que trabalha em busca de gorjetas e restos de comida deixados pelos hóspedes que foram embora.
Ao voltar para seu minúsculo apartamento, localizado em cima de um bar, desesperada para rever seu filho e renovada com a ideia de se aconchegar no calor do abraço dele, Vera se vê perdida e assustada ao perceber que Daniel sumira sem deixar rastros; a cama onde o tinha deixado dormindo quando saíra para trabalhar estava fria e os cômodos extremamente silenciosos apesar do barulho vindo de fora das janelas.
Atormentada pela ideia de Daniel ter saído para brincar na neve ou ter se perdido, Vera corre em busca de qualquer pista que a leve até ele, porém a única coisa que consegue encontrar em meio a uma nevasca é um ursinho de pelúcia jogado na neve e nenhum vestígio de Daniel.
Passado quase um século após a grande nevasca de 1933, o fenômeno volta a acontecer, mas dessa vez em 2010, onde Claire Aldridge, uma jornalista do jornal local Herald, é encarregada para cobrir e publicar uma matéria sobre o grande mistério de uma nevasca em plena primavera.
Sem convicção de que a nevasca seria uma notícia que os leitores dariam importância e que geraria repercussão, Claire vai em busca de mais informações e acaba encontrando algo ainda maior e que prende completamente sua atenção. Um pequeno parágrafo, uma pequena notícia e pouquíssimas palavras que relatavam que, durante o fenômeno que ocorreu anos atrás, o desaparecimento de um menininho de 3 anos foi relatado à polícia, porém nenhum vestígio da possível fuga ou da criança foram encontrados.
“Os segredos têm dessas: sempre encontram seu caminho. Mesmo que leve uma vida toda.”
Antes de entrar em qualquer tipo de detalhe sobre “Neve na primavera”, preciso compartilhar o quanto esse livro foi perfeito! A leitura fluiu tão leve que eu me vi COMPLETAMENTE envolvida pela história de Vera e Claire e as consequências de tantos anos de mentira, medo, angústia, desespero e traumas pela perda de um filho.
Consegui sentir todos os sentimentos e sensações de Vera na busca incansável por seu filho e a esperança de achá-lo. A perseverança, a força e a coragem dela me surpreendeu durante todo o livro, pois em momento algum ela deixou de ser quem ela era, sempre positiva de que seu pequeno voltaria para o lar são e salvo ou que alguma família o teria achado e cuidado com carinho, suprindo todas as necessidades que ela nunca pudera dar a ele.
Vera de fato foi a personagem estrela de “Neve na primavera” e mostrou o quanto o amor maternal pode enfrentar e superar qualquer perigo, medo, vergonha ou classe social.
Quanto a Claire, sua personalidade também se tornou marcante, não somente pelo fato de ela também ter perdido um filho, como por estar enfrentando uma fase em seu casamento que pouquíssimos casais conseguem lidar. Os traumas dela quanto ao acidente são palpáveis, por isso, em quase todos os momentos em que seu marido Ethan fez parte da narrativa, senti pena dela, apesar de entender que cada um lida com o luto de uma forma.
Ethan sempre se mostrou distante, pouco à vontade para criar momentos com sua esposa e sempre disponível quando sua ex – e também crítica de gastronomia da empresa que ele gere – o chamava para algum evento em restaurantes ou degustação de pratos. Isso de fato me incomodou porque mesmo com os pequenos gestos que demonstravam que ele queria consertar seu casamento, as atitudes traziam a sensação totalmente contrária: de que ele pouco se importava com o que Claire realmente sentia.
Em diversos momentos durante a leitura, desconfiei de pequenas coisas que a autora ocultou nas entrelinhas, soltas no meio da história, mas jamais imaginava que o plot seria tão revelador e tão aliviante por finalmente saber a verdadeira história da família Ray.
Me senti anestesiada e emocionada com o final de “Neve na primavera”, com a sensação de que todo o dever foi cumprido. A autora criou uma história repleta de segredos, dores marcantes e sentimentos fortes e como mágica transformou-os em calmaria, como se toda a narrativa fosse sentida como um veludo, macia ao toque, reconfortante e como um convite para se deleitar com a escrita e os personagens.
Início da Leitura: 25/01/2023
Término da Leitura: 26/01/2023
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Sarah Jio
Ano: 2015
Páginas: 336
Idioma: português
Editora: Novo Conceito
Vera Ray odeia o turno da noite, mas o emprego de camareira no hotel garante o sustento de seu filho. Na manhã seguinte, o dia 2 de maio, uma nevasca desaba sobre a cidade. Vera se apressa para chegar em casa antes de Daniel acordar, mas encontra vazia a cama do menino. O ursinho de pelúcia está jogado na rua, esquecido sobre a neve.