Quem nunca conheceu uma pessoa que passou por um relacionamento como o de Gisele e Pedro em ‘Beco sem saída”? E, claro, se não conhece, com certeza você foi a pessoa que lutou intensamente contra um amor tóxico e abusivo sem enxergar o caos em que vivia (e espero que já tenha enxergado enquanto acompanha essa resenha, ou que tudo que vou te contar te faça pensar e refletir sobre tudo). Afinal, você nunca estará sozinho.
“Dizem que as pessoas escolhem a dor que está presente na sua vida. Tanto a mudança quanto a estagnação são escolhas, ambas com suas respectivas consequências. E era esse dilema que Gisele se encontrava: que dor escolher?”
Gisele é a verdadeira definição de dedo podre para o amor e vive se metendo em furadas amorosas, afinal, além de ser péssima para escolher um parceiro, Gisele é escritora freelancer em uma coluna de revista, onde detalha as desventuras de seus relacionamentos pouco duráveis e caóticos.
O relacionamento de Gisele e Pedro vem de décadas, contudo nunca teve uma base sólida para ser tratado como algo sério, fazendo Gisele se perguntar porque nunca encontrava alguém legal e se submetia a encontros que não davam em nada além de uma boa história para contar aos seus leitores.
Sentindo-se completamente inamorável e apaixonada, o coração de Gisele sempre se despedaçava na mesma velocidade com que Pedro sumia sem avisos depois de fazer o que queria com ela, no momento que desejava. Sempre que isso acontecia, Gisele procurava consolo e distração por um sentimento vazio e puro de carência de ser amada e desejada – algo pouco duradouro mas que dava a ela um alívio temporário de seus sentimentos por Pedro.
Cansada dos sumiços sem explicação de Pedro e do seu jogo de sentimentos, Gisele decide escrever um novo capítulo da sua vida, deixando o passado para trás e buscando superar tudo aquilo que acreditava que era amor. Mas será que ela conseguirá superar o primeiro amor da sua vida?
“Precisava se desapegar desse beco sem saída emocional, mas como? Era esse pensamento que martelava em sua mente sem parar. Talvez, se escrevesse sobre isso — uma mulher tentando se desapegar de seu primeiro amor.”
A história de “Beco sem saída” não é nada fácil de ser lida, pois lida com diversos sentimentos, entre eles a dependência emocional e a roleta russa que é viver um relacionamento tóxico. Infelizmente só quem viveu na pele esse tipo de sentimento sabe como é duro e doloroso tentar sair de um relacionamento assim, em que os sentimentos falam mais alto do que o bem estar, criando teorias e desculpas para tudo que faz mal.
Como mulher que já passou por um relacionamento conturbado e dependente (por quase uma década, assim como a personagem), posso dizer que me identifiquei com boa parte da leitura e com a angústia enraizada no coração de Gisele. Mas, em contrapeso com uma leitura que poderia ser titulada como dolorosa, a autora conseguiu escrever com maestria essa profusão de sentimentos, sem deixar que o peso deles deixasse a narrativa cansativa demais.
“Dizem que as pessoas escolhem a dor que está presente na sua vida. Tanto a mudança quanto a estagnação são escolhas, ambas com suas respectivas consequências. Dessa forma, Gisele podia optar por sentir a dor da mudança — tirar Pedro da sua vida — ou sentir a dor da estagnação — ser usada repetidamente por Pedro e ser abandonada inúmeras vezes. E era esse dilema que Gisele se encontrava: que dor escolher?”
Eu gostei muito da evolução de Gisele durante o livro “Beco sem saída”, já que ela era completamente dependente dos sentimentos rasos e vazios de Pedro, sempre colocando-o em um pedestal criado pela paixão que sentia por ele. A trajetória dela pela cura, autoconhecimento e amor próprio foi conturbada e em diversos momentos achei que ela não seria capaz de superar tudo que havia acontecido, mas fiquei surpresa com a maturidade que ganhou ao longo dos capítulos.
Quanto a Pedro, sua aparição (quase como se fosse uma assombração na vida de Gisele), me incomodou muito, pois sempre acontecia quando ela estava conseguindo seguir em frente, puxando-a para o passado novamente. Pedro é completamente tóxico e manipulador, sempre fugindo dos sentimentos enraizados por Gisele, abandonando-a após conseguir o que queria e sempre se questionando o quanto lhe fazia mal, mas nunca o suficiente para mudar suas atitudes tóxicas de fazê-la comer na sua mão em todas as tentativas de aproximação.
“A conexão entre eles era mais forte. Necessitava do seu calor e do seu abraço. Só com ela, Pedro se sentia mais como ele mesmo.”
Para trazer leveza e paz para a vida conturbada de Gisele, Otávio é como um bálsamo para a história, a verdadeira definição de homem perfeito, conseguindo criar momentos descontraídos e aliviantes em meio a tanta confusão, principalmente pela indecisão de Gisele de querer seguir em frente ou continuar na mesma história caótica que seguiu por anos.
De modo geral, “Beco sem saída” é um livro que me surpreendeu bastante, não só pela história delicada, mas pela forma que a autora conseguiu trazer leveza e dinamismo para um assunto tão problemático e com sentimentos que podem facilmente ser gatilhos para quem o lê.
Início da Leitura: 09/03/2023
Término da Leitura: 14/03/2023
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Helena Ribeiro
Ano: 2022
Páginas: 315
Idioma: português
Editora: Publicação Independente
Gisele Barreto é escritora freelancer frustrada com sua vida amorosa que se envolve em furada atrás de furada para ter o que escrever. Gisele não entende direito porque entra nessas aventuras, mas suspeita que tudo começou com ele… Pedro Medrado.