Hannie Schaft, pseudônimo de Johanna (em homenagem à sua falecida irmã Annie Schaft), era popularmente conhecida pelos combatentes contra as tropas nazistas do Terceiro Reich, tornando-se um símbolo da resistência feminina durante a invasão da Alemanha aos Países Baixos em 1940. Holandesa, jovem e estudante universitária do curso de direito em Amsterdã, Hannie possuía sonhos de defender todos aqueles que precisavam de ajuda. À medida que as tropas nazistas avançavam sobre terras holandesas, Hannie se viu em uma difícil missão de esconder suas melhores amigas, ambas de origem judaica, pondo em risco sua família.
“Tenho muito respeito pelos pacifistas. Não estou me referindo às pessoas que se limitam a declarar que amam a paz. Refiro-me àquelas que de fato defendem suas crenças, porque o mundo atual está embriagado de guerra.”
Com medo das tropas alemãs invadirem a casa de seus pais e descobrirem o esconderijo de suas amigas, Hannie se juntou às células de resistência holandesa para combater soldados alemães, partidários e traidores, protegendo o povo holandês das crueldades e do sadismo nazista. Treinada para roubar documentos, criar disfarces, transportar armas e até matar à queima-roupa nazistas e colaboracionistas, Hannie se tornou uma combatente à altura dos soldados do alto escalão nazista, uma ameaça aos seus inimigos e um troféu para quem conseguisse capturá-la.
Conhecida apenas como “a garota do cabelo vermelho” e com envolvimento cada vez maior nas atividades da resistência, junto às irmãs Truus e Freddie Oversteegen (combatentes também reconhecidas e importantes das células de resistência holandesa), a história de Johanna (Hannie) é um relato inspirador de coragem, força, sacrifício e luta pela liberdade.
Tratando-se de um tema que é um dos meus favoritos – guerra, nazismo, sobrevivência -, “A Garota do Cabelo Vermelho” é um romance ficcional baseado na história real de Jannetje Johanna Schaft, uma combatente da resistência holandesa durante a Segunda Guerra Mundial.
“De qualquer forma, com o passar dos dias, o gosto amargo do nazismo começou a se espalhar pelos meandros da vida diária. Não éramos ‘irmãos’ dos nazistas, e eles não pretendiam tornar as coisas mais fáceis.”
A autora, Buzzy Jackson, é doutora em História pela Universidade da Califórnia em Berkeley, o que traz uma experiência de leitura ainda mais real para o contexto histórico no qual a obra foi baseada. Diversas citações, frases, cenários e memórias são resgatados da vida real de Johanna e trazidos para o livro de forma dinâmica, viva e extremamente dura, já que as cenas de violência não passam despercebidas.
Apesar do livro apontar um marco importante que é a guerra, a loucura pela dizimação de judeus e pessoas contrárias ao partido de Hitler, ele não abrange essa agressão de forma direta. Em vez disso, aproveita pontos do outro lado do espelho, incluindo as pessoas da resistência na luta pela liberdade dos seus iguais, as violências que sofreram e o modo como lutaram pela sobrevivência não só deles, mas também de outras centenas de pessoas, incluindo idosos, crianças e estrangeiros.
“Cada vez que eu olhava para o despertador na mesinha de cabeceira e, em seguida, ajustava o relógio, sentia aquela sementinha amarga crescer. A partir de então, quando eu andava pela cidade, as estrelas amarelas gritavam para mim: faça alguma coisa.”
A humanidade retratada nesses cenários é bem dolorosa, e muitas vezes cruel, mas a autora consegue em meio a todos o caos e sofrimento trazer pequenos momentos de empatia, amizade e conexão e um sentimento tão poderoso e tão profundo que nem mesmo a guerra consegue apagar: o amor.
“A alma, ou a memória das pessoas que amamos, nunca os abandona. O sofrimento passa, a dor passa, até a vida passa, mas o amor não.”
Além desse cuidado com o lado humano das pessoas que viram a guerra de perto, a autora traz um comprometimento muito grande com a linha do tempo e precisão histórica dos acontecimentos e das memórias resgatadas dos documentos. Buzzy foi extremamente detalhista quanto aos detalhes reais dos personagens, sua rotina e até mesmo com pequenas relações e contatos.
O romance entre Jan e Hannie deixou a desejar; não consigo compreender completamente a profundidade da relação entre eles e porque Hannie se apegou tanto a alguém que a traiu em diferentes perspectivas. Jan, apesar de ser um combatente da resistência e ter participado de diversas missões perigosas, às vezes me pareceu fraco. No entanto, ao longo da leitura, isso é explicado, e mesmo que eu quisesse não gostar do personagem por ter traído a confiança de todos, consigo perceber o quão grande deve ter sido o sofrimento dele ao ser capturado.
“A garota do cabelo vermelho” é um livro marcante, difícil de digerir, mas que consegue trazer de forma emocionante a força para lutar, mesmo diante dos maiores perigos. E Hannie é a retratação da esperança e resistência, que lutou pela dignidade de povos judeus e holandeses até ser capturada e executada aos 24 anos, poucos dias antes da libertação da Holanda pelas tropas aliadas.
Início da Leitura: 24/05/2024
Término da Leitura: 29/05/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Buzzy Jackson
Ano: 2023
Páginas: 432
Idioma: português
Editora: Arqueiro
Quando os alemães invadem os Países Baixos em 1940, Hannie Schaft é uma jovem estudante de Direito cheia de planos para o futuro. À medida que a ameaça nazista avança, colocando em risco a vida de suas melhores amigas, ambas judias, ela sente que não pode ficar parada e se junta à Resistência.