Os oráculos concordam: para derrotar o inimigo e salvar a cidade, uma donzela deve ser sacrificada.
Mariana Andros, formada em psicologia pela Universidade de Cambridge, trabalha como terapeuta de grupo, lidando com pacientes que enfrentam traumas e pesadelos. Além de seu papel profissional, Mariana enfrenta um dos seus maiores desafios pessoais: a perda recente de seu marido em um acidente durante as férias que passariam juntos nas propriedades de seu pai, na Grécia.
“Isso é que era terrível. No fundo, todos esperamos que as tragédias só aconteçam com os outros. Mas Mariana sabia que, cedo ou tarde, ela acontecia com você.”
A morte de Sebastian a faz refletir sobre uma oração que havia feito a Perséfone e Deméter em um templo, e Mariana começa a questionar se, de alguma forma, teria ofendido as deusas com seus pedidos. Esse conflito interno a consome enquanto ela tenta equilibrar seu trabalho, as dúvidas sobre si mesma e os problemas de seus pacientes. Em meio a esse caos emocional, Mariana recebe uma ligação de Zoe com a notícia de que Tara, uma de suas amigas, foi assassinada a facadas.
Apesar de não atuar na área de psicologia forense, Mariana é seduzida pela ideia de que o antigo prédio onde estudou escondia mistérios reveladores e que o professor Edward Fosca seria o assassino perfeito. Adorado por toda a Universidade, Fosca dá aulas sobre tragédias gregas em Cambridge e possui um grupo de estudos secreto onde, suas principais fãs e alunas, são conhecidas como “As Musas”.
Edward possui o álibi perfeito, porém mais um corpo é encontrado e a busca de Mariana pelo culpado só a faz mergulhar em um mar ainda maior de dúvidas. Recados são deixados junto aos corpos e se transformam em pistas ainda mais clichês na situação em que se encontram: trechos de rituais de adoração gregos a deuses que pedem por sacrifício.
“Fosca tomou um pouco de café, encarando-a. E, quando olhou no fundo dos seus olhos pretos, Mariana não teve mais dúvidas. Tinha certeza absoluta. Estava olhando para os olhos de um assassino.”
“As musas” é o primeiro livro do autor de “A paciente silenciosa” que leio e, apesar de ter visto algumas avaliações negativas, a narrativa me surpreendeu e várias vezes cai na teia de pistas e pensamentos que Mariana criava.
A forma como o autor conecta Mariana, Fosca e os acontecimentos, todos unidos pela relação com a Grécia, é incrível. Grande parte da narrativa se baseia no ciclo de vida, morte e renascimento, estabelecendo uma relação com o mito de Deméter e Perséfone. Nesse contexto, a morte precisa ser compreendida como algo simbólico, não apenas literal e concreto, abrangendo a perda, o luto e a transformação. Outra referência interessante envolve os assassinatos em Cambridge, onde o autor cria uma trama misteriosa inspirada nos Mistérios de Elêusis, cerimônias religiosas e secretas de iniciação, com rituais pessoais que, se revelados, poderiam levar ao sacrifício da pessoa que o revelou.
Todo o livro é envolto em dramaticidade e suspense. O autor constroi uma ambientação que se aproxima de uma poesia trágica grega, onde os personagens são profundamente humanos, cheios de problemas, dúvidas e medos.
“Um monstro armado com uma faca estava entre eles, sem ser notado, espreitando pelas ruas, aparentemente capaz de entrar em ação e desaparecer na escuridão… A invisibilidade o tornava mais que humano, algo sobrenatural: uma criatura nascida de um mito, um fantasma.”
Além disso, a narrativa dispersa lembranças de uma infância difícil do assassino, conectando-as a diversos pensamentos e características de vários personagens. Isso cria uma incerteza constante sobre quem é quem e qual o próximo suspeito. Esse “estilingue” que o autor faz com as informações ao longo da leitura traz uma dinâmica interessante, que poderia ser descrita como uma “aflição” por te fazer criar diversas teorias que, no final, se revelam uma agulha no palheiro.
“Mesmo assim preciso lembrar. Porque é mais que uma confissão. É uma busca pelo que se perdeu, por todas as esperanças perdidas e perguntas esquecidas. É uma busca por explicações: pelos segredos terríveis aludidos naquele diário de criança – que agora consulto como se fosse um vidente, desvendando a bola de cristal. Só que eu não tento ver o futuro. Tento ver o passado.”
A única parte mesmo que me fez questionar toda a dramaticidade que ambienta o livro “As musas” é a relação de Mariana com os assassinatos. Apesar de ela ser psicóloga, não entendi muito bem sua motivação para resolver os mistérios e encontrar a pessoa por trás dos acontecimentos, já que ela mesma declara que não é da área forense e não compreende os motivos por trás da mente do assassino. Toda essa motivação se estende apenas pelo fato de associar a morte de seu marido aos mitos gregos e aos recados ritualísticos deixados nos corpos encontrados.
Outro ponto importante também é que não achei importante ou relevante a coparticipação de Sebastian no meio do enredo. Pouco é explicado sobre sua história com Mariana e Zoe no passado, o que cria um contexto pouco convincente, que acaba sendo parte do grande motivo para as mortes encontradas no campus. Esse foi o único detalhe que achei sem sentido e até mesmo nojento depois que algumas revelações são feitas.
Embora alguns detalhes pudessem ter sido mais bem desenvolvidos, “As Musas” é um livro do gênero que me surpreendeu muito, até pelo fato de não conseguir parar de ler e criar teorias. Para quem gosta de narrativas com contextos históricos e culturais e uma boa dose de suspense, “As Musas” oferece o cenário perfeito de tragédia poética.
Início da Leitura: 05/06/2024
Término da Leitura: 08/06/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Alex Michaelides
Ano: 2021
Páginas: 350
Idioma: português
Editora: Record
Edward Fosca é um assassino. Disso Mariana tem certeza. Mas Fosca é intocável. Esse belo e carismático professor de tragédia grega na Universidade de Cambridge é adorado tanto pelos funcionários quanto pelos alunos da instituição – principalmente pelas integrantes de uma sociedade secreta de alunas conhecida como ”As Musas”.