A vida das abelhas em uma colmeia e o universo das mães na Escola Primária St. Ambrose não é mera coincidência. No ambiente escolar, enquanto as crianças estão ocupadas com suas aulas, do lado de fora dos portões, um cenário complexo de amizades, disputas e pequenas intrigas se desenrola entre Rachel, Georgie, Heather e Jo. No topo dessa dinâmica social está Bea, que governa com autoridade. No entanto, a chegada de duas novas famílias e de um novo diretor traz desafios inéditos.
Em “Colmeia”, de Gill Hornby, a vida de Bea, Heather, Georgie, Bubba, Rachel e outras mulheres do círculo de amizades da escola St. Ambrose é comparada a uma grande colmeia, onde Bea é a abelha rainha. Bea é exigente e mandona, sempre querendo que façam tudo por ela, enquanto ela mesma não faz absolutamente nada. As outras mulheres do grupo são as operárias, que se desdobram para agradar a rainha e atender a todas as suas ordens, sem nunca se impor, tornando-se escravas dos desejos de Bea.
A história, ao contrário do que foi proposto pela autora como sendo sobre mulheres, mães e suas amizades e brigas, parece mais uma história de adolescentes que se odeiam e fazem de tudo para que uma não se destaque mais que a outra. Elas vivem em um mundo onde apenas elas acreditam que suas tarefas insignificantes têm alguma importância. Foi surpreendente que uma mulher tenha escrito um livro tão estereotipado, retratando mães apenas como mulheres “domésticas” que se dedicam exclusivamente à criação dos filhos e aos afazeres domésticos, fofocando em um chá da tarde, sem nada mais interessante em suas vidas além de meramente existir.
“Mas esse era o top dos tops da sua lista de ódios: mulheres adultas chamando outras mulheres adultas de melhores amigas. Galinhas usando terminologia de franguinhas. Era como sair por aí com uma saia curta de colegial e calcinha de babados.”
Achei o livro extremamente monótono, exatamente como a vida dessas mulheres que passam seus dias realizando tarefas ridículas apenas para serem incluídas em um grupo ainda mais entediante. A divisão de alguns capítulos é confusa, mudando de personagens sem ao menos um subtítulo. No entanto, conforme a leitura avança, é possível acompanhar melhor e identificar os personagens pelas suas falas.
Bea é uma personagem extremamente desagradável, que se acha superior a todas e acredita que tudo deve ser feito à sua maneira, não permitindo que qualquer outra opinião seja levada em consideração.
“Sempre houve um padrão caleidoscópico na vida de Bea: gente até então despercebida emergia da escuridão, era trazida à luz e entrava no torvelinho do brilho dourado por ser a nova amizade de Bea. Até que, por um motivo ou por outro, tornavam a entrar rodopiando na escuridão, meio sem entender o que havia acontecido, perguntando-se onde foi que tudo tinha dado errado.”
Heather é a “operária” mais desesperada para agradar Bea e a todos, acatando qualquer opinião e crítica. Ela sempre se sente insuficiente, incapaz e acha que não sabe fazer nada direito. Rachel e Georgie são as personagens mais realistas. Rachel está passando por um divórcio recente e enfrentando toda a onda de sentimentos que vêm com a separação. Georgie é a mais pé no chão e vê todo esse “teatro” como uma grande bobagem e perda de tempo, enxergando a falsidade do grupo.
Comprei este livro pela capa, que chamou minha atenção, mas confesso que me decepcionei com o conteúdo. A famosa frase “não julgue o livro pela capa” se aplica aqui. Os únicos diálogos e narrativas que gostei de acompanhar foram os de Rachel e Georgie. Apesar de suas fragilidades e momentos de agirem como uma adolescente, elas ainda demonstram mais maturidade que as outras mães do grupo e as histórias das duas trazem uma certa sensação de conforto para a leitura arrastada e irritante do restante do livro.
Parecem quase dois mundos distintos: o real, onde Rachel e Georgie vivem suas vidas com problemas, preocupações, rotinas e relacionamentos, e o utópico, onde Bubba, Bea, Collette e Clover vivem como se cada uma delas fosse um planeta orbitando em seu próprio universo.
“Em todo lugar que você olha tem uma apóstrofe ou ponto de exclamação falsos. Eu tenho uma tolerância muito baixa para esse tipo de coisa, se quer saber, e acho que você não está levando isso suficientemente a sério.”
Existem muitos pontos negativos no livro, mas confesso que a partir da metade, alguns capítulos começam a sair da monotonia e se tornam mais interessantes, dinâmicos e até um pouco divertidos, pelo modo como certas personagens reagem aos acontecimentos rotineiros.
Início da Leitura: 18/06/2024
Término da Leitura: 21/06/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Gill Hornby
Ano: 2014
Páginas: 350
Idioma: português
Editora: Record
Qualquer semelhança entre o complexo e hierárquico mundo das abelhas e as mães da Escola Primária St. Ambrose não é coincidência. Enquanto as crianças estudam, do lado de fora dos portões da escola – onde encontramos Rachel, Georgie, Heather e Jo –, um mundo de amizade, brigas e picuinhas ganha forma.