No Último Verão da State Street tem uma narrativa muito simples, mas que carrega um peso muito grande de emoções e reflexões sobre a vida, a infância e a resistência em meio à adversidade, trazendo uma densidade de emoções que vai muito além do número de páginas.
Felicia, ou Fefe, é uma garota de 12 anos que vive em um conjunto habitacional popular de Chicago que está sempre sob a ameaça da segregação socioespacial. Nele, Fefe e suas amigas, Preciosa e Stacia, formam um trio que, apesar das dificuldades ao redor, encontra alegria em pequenas coisas. Porém tudo começa a mudar quando uma nova moradora chega ao prédio onde vivem.
A chegada de Tonya acaba abalando a amizade das garotas e traz mudanças que vão transformar o futuro de todas de formas inesperadas. À medida que os prédios do conjunto habitacional são demolidos e os moradores são forçados a se mudar, as personagens enfrentam desafios que vão muito além da amizade. Elas precisam lidar com suas diferenças, confrontar seus passados e sobreviver ao perigo constante das gangues que dominam as ruas, causando confrontos diários.
“Imaginei que haveria alguma resistência a incluir Tonya na turma, mas não tinha como saber, aos 12 anos, quão ruim as coisas ficariam. Naquele verão, uma a uma, todas desapareceram como se estivéssemos ‘indo pro olho da rua’ como na brincadeira de corda. […] A realidade nos tirou do momento de risadas. […] Num minuto ríamos alto e brincávamos muito, no outro estávamos em silêncio e preocupadas.”
O livro faz um trabalho incrível ao mostrar como a vida dessas meninas é afetada por forças externas, mas também como a força delas está em como enfrentam tudo isso juntas. A história é sobre amizade, mudança e a luta para encontrar um lugar seguro em um mundo que parece desmoronar. Mesmo sendo uma leitura rápida, as emoções ficam com você por muito tempo depois de virar a última página.
Wolfe constroi uma narrativa que nos faz sentir cada perda, cada trauma, e nos coloca no coração das experiências dessas crianças, que, de uma maneira ou de outra, tentam encontrar o caminho de volta para quem eram antes de o mundo ao redor delas desmoronar.
“Esse dia está cimentado na minha memória. Nós os vimos derrubar o que pensávamos ser indestrutível. Eu viria a aprender que muitas coisas que eu pensava serem sólidas e estruturadas na minha vida podiam ser desmanteladas, pedaço por pedaço, assim como aqueles prédios.”
O livro é um verdadeiro diário de tragédias, episódios traumáticos e a perda da infância para a violência e a diferença entre classes. É uma coleção de histórias sobre um lugar cheio de memórias, onde acontecem coisas que nenhuma criança deveria sequer ouvir falar, muito menos vivenciar. A autora consegue capturar a força que surge dessas conexões familiares, de amizade e de comunidade.
Essa obra-prima de Toya Wolfe retrata de maneira brilhante como os personagens perdem a si mesmos em meio ao caos e, ao mesmo tempo, tentam desesperadamente relembrar suas essências. A autora consegue capturar com precisão a dor e a luta de crescer em um ambiente tão opressor, onde a inocência é roubada e a violência se torna uma parte inevitável da vida.
“Eu aprenderia que crianças negras não podem se dar ao luxo de parecer infantis e inocentes; que, a partir do momento em que nascemos, algumas pessoas iniciam uma contagem de quanto tempo levará para os meninos cometerem um crime e as meninas seduzirem alguém.”
Entre todos os livros que li esse mês, esse foi o mais emocionante e que me surpreendeu de uma forma que eu não esperava quando iniciei a leitura.
Início da Leitura: 18/08/2024
Término da Leitura: 23/08/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Gabriela Graciosa Guedes
Ano: 2024
Páginas: 224
Idioma: português
Editora: TAG – Experiências Literárias
No escaldante verão de 1999, Felicia Stevens, mais conhecida como Fefe, e suas amigas, Precious e Stacia formam um trio unido enquanto o conjunto residencial popular em que vivem é constantemente ameaçado pela gentrificação que dita o destino dos bairros humildes de Chicago.