Afinal, o que faz a vida realmente valer a pena?
Nora Seed tem apenas 35 anos quando decide morrer. Marcada por uma tristeza familiar e por um sentimento de vazio enquanto acompanha a vida feliz de outras pessoas, Nora não consegue enxergar sentido em sua vida pacata, em uma cidade pequena, com um trabalho comum, um lugar sem muitas mudanças, mas cheio de lembranças que a assombram.
Deprimida e decidida que era a hora certa para se livrar de toda tristeza e arrependimentos, Nora toma todos os seus remédios e vai dormir. Ao acordar, ela não está mais em sua casa, mas em um lugar desconhecido, onde no lugar de paredes, havia somente estantes, inúmeras, corredores e mais corredores delas indo do teto ao chão e abarrotadas de livros.
Confusa, Nora avança pelos corredores admirando os livros de cor esverdeada, desgastados e com larguras variadas, curiosa com que tipo de conteúdo poderia haver neles, até que alguém se aproxima. Nora então descobre que está na “Biblioteca da Meia-Noite” onde cada livro oferece uma oportunidade de experimentar outra vida que ela poderia ter vivido, de ver como as coisas seriam se tivesse feito outras escolhas, de descobrir se ela faria algo diferente se tivesse a chance de desfazer de tudo que lhe causava arrependimento.
“Assim como no caso do Voltaire, as únicas vidas disponíveis aqui são, bem, vidas. Quer dizer, você poderia morrer naquela vida, mas não teria morrido antes de entrar nela, porque esta biblioteca da meia-noite não é uma biblioteca de fantasmas. Não é uma biblioteca de cadáveres. É uma biblioteca de possibilidades. E a morte é o oposto da possibilidade.”
Muito mais que uma reflexão sobre diversos temas sobre a vida, sobre escolhas, sobre decisões e sobre como queremos que a vida seja perfeita quando ela não é e que tudo acontece por uma razão, assim como esse livro chegou em um momento em que mais precisava e que precisava tomar decisões importantes na vida.
“A Biblioteca da Meia-Noite” é uma história incrível, diferente de tudo que já li. Apesar de ser um tema comum, e bastante filosófico (sobre a relação de vida-morte), o autor conseguiu criar uma carga reflexiva muito grande usando um peso emocional nas palavras que permanecem por toda a leitura e transbordam pelas páginas te fazendo pensar na vida e nas próprias escolhas.
O sentimento de despertencimento de Nora nesse mundo, achando que não foi e não é uma pessoa importante ou que gerou mudanças em outras vidas é bem pesado, carregado das dores de uma pessoa que está passando por uma depressão crônica severa. Durante toda leitura senti um certo incômodo, um mal estar, um vazio, como se, além da personagem, algo também estivesse faltando em minha vida.
Nesse ponto, o livro possui inúmeros gatilhos que podem ser acionados em pessoas com sintomas de depressão, então não acho recomendado lerem, por mais que a leitura traga reflexões importantes sobre o valor da vida.
“Fazer parte da natureza era fazer parte da vontade de viver. Quando você fica muito tempo num lugar esquece como o mundo é grande e vasto. Não tem noção da extensão de suas longitudes e latitudes. Assim como, supôs ela, é difícil ter noção da vastidão dentro de qualquer pessoa. Mas, assim que você sente essa vastidão, assim que algo a revela, a esperança surge, quer você queira ou não, e se agarra você tão teimosamente quanto um líquen se agarra a uma rocha.”
A narrativa não tem grandes reviravoltas, pois não é um livro com grandes ações, o que acaba tornando-a um pouco cansativa pelo peso da história. Mas a experiência da personagem testando outras possibilidades de vida acaba trazendo dinamicidade para a leitura com cenas divertidas e mais leves, mesmo com as nuances de reflexão.
Essas passagens de vidas vão trazendo para a leitura o entendimento sobre os arrependimentos e frustrações na vida de nora, que a levaram a desistir da própria vida, mesmo sem entender que o sentimento que ela possuía não vinha das escolhas que ela havia feito ou das decisões que não havia tomado, mas sim da ideia de que sua vida não era perfeita.
Viver um ideal de uma vida perfeita, em um mundo imperfeito; Nora finalmente entende, com a ajuda de pessoas próximas a ela, que independente de suas decisões, escolhas e vidas, ela nunca estaria completa, com uma vida perfeita, já que a perfeição não existe e, antes que o tempo acabe, ela deve responder à pergunta mais importante de todas: o que faz a vida valer a pena?
“O choque não havia resultado do fato de ela achar que estava prestes a morrer. Estava à beira da morte desde que botou os pés na Biblioteca da Meia-Noite. Não, o choque estava no fato de ela ter sentido como se estivesse prestes a viver. Ou, pelo menos, que se podia imaginar querendo estar viva de novo. E queria fazer algo de bom com aquela vida.”
Início da Leitura: 27/08/2024
Término da Leitura: 28/08/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Matt Haig
Ano: 2022
Páginas: 308
Idioma: português
Editora: Bertrand Brasil
Aos 35 anos, Nora Seed é uma mulher cheia de talentos e poucas conquistas. Vendo pouco sentido em sua existência, ela coleciona tristezas e arrependimentos. Quando Nora se vê na Biblioteca da Meia-Noite, ganha uma oportunidade para fazer tudo de novo.