Agosto é um mês memorável na vida de Ana Magdalena Bach. Religiosamente, todos os anos, nos meses de agosto, Ana viaja de barca até uma pequena ilha no Caribe apenas para visitar o antigo cemitério e deixar ramos de gladíolos no túmulo de sua mãe, uma das flores preferidas dela.
Hospedada sempre no mesmo hotel, pedindo sempre o mesmo sanduíche de queijo com café e leite no bar, contratando o mesmo táxi para levá-la aos locais, comprando flores na mesma barraquinha no caminho até o cemitério, Ana Magdalena segue sempre os mesmos passos, até que um homem chama sua atenção.
Encorajada pelo gim que pediu no hotel após seu jantar, Ana começa a encará-lo até que ele enfim a chama para dividir a mesa e ela se sente solta, atrevida e capaz de fazer qualquer coisa, até mesmo levar ele para o seu quarto e dividir sua cama.
“Acendeu as luzes e viu que a roupa dele não estava ali. Já a dela, que tinha sido jogada no chão, agora estava dobrada e posta quase que com amor na cadeira. Só então se deu conta de que não sabia nada dele, nem mesmo o nome, e a única coisa que restava de sua noite louca era o triste cheiro de lavanda no ar purificado pela borrasca.”
Deixando completamente de lado sua vida conjugal, Ana Magdalena cede às suas vontades e naquele quarto de hotel, cercada pelo calor do verão e corpos embolados, sua vida muda para sempre. Depois da noite memorável que passou com aquele homem desconhecido e sem nome, os meses de agosto adquiriram um novo tom de liberdade: agora Ana Magdalena irá ansiar a data de ida até a pequena ilha, escolhendo a cada ano um novo amante e descobrindo prazeres cada vez mais reais.
Poucos autores escrevem livros que mudam o curso da literatura, mas esse livro inédito e póstumo do Gabo me fez enxergar o desejo feminino e a resistência do prazer de uma forma completamente diferente.
Em nos vemos em agosto, lançado uma década após a morte do autor, explora de forma muito leve a descoberta dos desejos e prazeres de uma mulher que escolhe um novo amante todos os anos e retrata os medos e inseguranças pelo desconhecido e pela liberdade que experimenta nos meses de agosto ao visitar o túmulo de sua mãe.
“No entanto, ela precisou de vários dias para tomar consciência de que as mudanças não eram no mundo, e sim nela própria, que sempre andou pela vida sem enxergá-la e só naquele ano, ao regressar da Ilha, começou a vê-la com olhos de aprendiz. […] Tinha sonhado a cada momento com aquele novo 16 de agosto, e a lição não admitia dúvidas: era absurdo esperar um ano inteiro para apostar o resto da vida ao acaso de uma noite.”
Longe das responsabilidades, vida conjugal e filhos, ana magdalena é personificada por uma visão feminista, que, apesar de ser narrada por um homem, é contada do ponto de vista de uma mulher e torna a história inesquecível e o livro em uma leitura obrigatória.
Para o primeiro contato com a escrita de Gabriel García Márquez, achei a escrita bem fluida, leve, fácil de ser lida pela facilidade com que a história se desenrola e que traz boas reflexões sobre a vida, escolhas, medos, sonhos, desejos e como devemos viver, sem medo de ser feliz, sem medo de julgamentos e principalmente, enxergando a vida como ela realmente é.
O livro faz um trabalho incrível ao mostrar como a vida dessas do iniciei a leitura.
Início da Leitura: 29/08/2024
Término da Leitura: 30/08/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Gabriel García Márquez
Ano: 2024
Páginas: 132
Idioma: português
Editora: Record
Um romance extraordinário que só Gabriel García Márquez poderia escrever, Em agosto nos vemos, livro inédito e póstumo do autor, é um hino à vida, ao desejo feminino e à resistência do prazer apesar da passagem do tempo.