Atenção, alerta de gatilhos! Este livro aborda temas difíceis como luto, perda e abandono emocional.
Cansada de uma rotina marcada pela solidão, sem propósito e aprisionada pelo luto da perda de seu marido, Grace Winters, uma professora de matemática aposentada de 72 anos, vive uma existência triste e solitária. Passando seus dias sentada no sofá de casa, em uma pequena cidade da Inglaterra, sem ânimo para mudar sua rotina e sendo constantemente assombrada pelas lembranças de sua perda, Grace não consegue enxergar como poderia mudar sua vida, até que recebe um e-mail de um ex-aluno que passou por uma depressão recente e está enfrentando a pressão de vários acontecimentos ruins em sua vida.
“Vivi um luto há pouco tempo. minha mãe morreu faz dois anos, e depois disso entrei em depressão. Tenho achado muito difícil seguir com a vida em alguns momentos. Parece que ela já está toda escrita e que as cartas estão todas marcadas, mesmo eu sendo tão novo. Às vezes a pressão é tanta que não consigo respirar.”
Vendo em Grace uma fonte de sabedoria em meio ao caos, seu ex-aluno recorre a ela em busca de conselhos e palavras de ajuda. Em resposta, Grace decide lhe escrever outro e-mail, compartilhando com ele uma longa história de vida, uma história que parece quase impossível, se acreditar que magia e segundas chances não existem.
Desacreditada e curiosa com a notícia, Grace descobre que se tornou herdeira da casa de uma antiga amiga que vive em Ibiza e há poucas semanas foi dada como morta. Mesmo com inúmeros problemas de saúde e a idade avançada, a curiosidade de Grace fala mais alto e sem pensar muito nas possibilidades, ela pega um avião com passagem só de ida para a Espanha para resolver o mistério do sumiço repentino de Christina e o motivo de sua morte.
“O que estou prestes a te contar é uma história que até eu acho difícil de acreditar. Por favor, não se sinta obrigado a aceitar o que eu disser como verdade. Mas saiba que Não inventei nada. Nunca acreditei em magia, E continuo não acreditando. No entanto, às vezes, quando uma coisa parece mágica é só uma parte da vida que ainda não compreendemos. […] Você mandou aquele e-mail na hora certa, porque acho que a minha necessidade de contar esta história coincidiu com a sua necessidade de encontrar respostas. Então, a questão é, você está pronto para uma nova teoria do infinito?”
Encantada pela beleza da ilha, Grace inicia sua jornada até a pequena casa amarela. Ao chegar, depara-se com um cenário desolador: apenas colinas ao redor e um carro velho estacionado na entrada. Nesse momento, ela começa a questionar por que desperdiçou seu precioso tempo sozinha, apenas para descobrir que herdou uma casa em ruínas e se envolver na resolução da morte de uma amiga com quem mal conviveu.
Mas ao cruzar a porta, Grace é imediatamente confrontada por acontecimentos sobrenaturais e mágicos que desafiam sua inteligência e raciocínio lógico, mexendo profundamente com suas lembranças e emoções.
Grace precisará enfrentar seu passado e aprender a enxergar a vida além das limitações impostas pela realidade. Mas será que ela está pronta para abraçar a possibilidade de um novo começo?
“Querer que as coisas sejam simples pode se tornar uma espécie de prisão, de verdade, porque você acaba ficando preso dentro de como você quer que as coisas sejam, em vez de abraçar como elas poderiam ser. Você acaba fechado. Acaba fechando portas para muitas possibilidades.”
Depois de ter lido A Biblioteca da Meia-Noite e amado a história, tive altas expectativas para este livro de Matt Haig, especialmente porque ele foi lançado pelo clube da TAG. E devo dizer que, de forma geral, ele não decepcionou. Gostei muito das reflexões que são a assinatura do autor: cenários fantásticos que se conectam a personagens profundamente humanos, cheios de sentimentos complexos e emoções palpáveis.
A literatura de cura de Haig é brilhante e traz reflexões importantes sobre temas como luto, depressão, culpa e perdão. O autor está sempre nos lembrando da importância de buscar beleza na vida, de apreciar os pequenos momentos e, principalmente, de aprender a perdoar a nós mesmos pelos erros do passado – afinal, o que já passou não pode ser mudado.
A jornada de Grace na ilha de Ibiza é, como o título sugere, a essência de uma vida impossível, um mergulho em um mistério que desafia qualquer lógica. Um dos aspectos mais brilhantes da narrativa, para mim, foi a maneira como o autor combinou temas racionais, como matemática e ciência, com elementos mágicos que colocam o leitor em dúvida: será real ou apenas fruto da imaginação?
“Eu tinha a matemática. Ela me ajudava a me distrair. Me ajudava a esquecer, por um momento, que havia algumas coisas que não podiam ser decompostas nem subtraídas. […] A matemática é a pureza da paz. Exceto que, obviamente, também é tão misteriosa e enigmática quanto à vida, e esperar que a matemática – ou qualquer coisa – se conformasse com o que eu queria foi um erro. E essa é a coisa mais devastadora de todas. Quando o mundo Lógico que buscamos se desfaz em pó diante dos nossos olhos.”
Apesar de Grace ser uma idosa de 72 anos, ela não é retratada como uma personagem frágil. Carregada de angústias e descrente de muitas coisas, ela tenta racionalizar o que acontece ao seu redor com lógica e provas. Mas por não encontrar respostas táteis, sua falta de propósito e o vazio que sente na vida tornam-na aberta a enfrentar o inexplicável, mesmo que tudo pareça uma grande bobagem para ela.
Até a metade do livro, a narrativa é densa de reflexões. Porém, conforme os acontecimentos mágicos na ilha se desenrolam, comecei a achar algumas passagens um pouco infantis, como se um toque de pó de pirlimpimpim tivesse dado um tom mais fantasioso à trama. Esse sentimento ficou ainda mais evidente com o surgimento do fenômeno “La Presencia”.
Sobre “La Presencia”, confesso que fiquei com sentimentos confusos. O fenômeno, para mim, parece ser uma representação do espírito de Grace se preparando para a morte. A conversa que ela tem com o filho quando ela é convidada para adentrar o “mundo” do La Presencia, parece uma despedida, um momento crucial para que ela possa se perdoar e aceitar sua passagem para “o outro lado”. Existe uma sensação completamente espiritual nesse fenômeno, como se ele fosse a luz no fim do túnel. E essa analogia dá uma profundidade interessante à história.
“Imagino que descrever tal coisa seja como descrever uma emoção difícil, uma emoção contraditória. Você vai experimentar mais emoções assim à medida que envelhecer. Como o estranho e pequeno contentamento que às vezes pode ser atribuído a tristeza ou as lágrimas, ao fato de se conviver com a dor. Ou a compreensão melancólica de que tudo tem um fim. Era hipnotizante; isso eu posso garantir. Era, simplesmente, a coisa mais incrível que já vi na vida.”
Início da Leitura: 17/10/2024
Término da Leitura: 21/10/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Matt Haig
Ano: 2024
Páginas: 400
Idioma: português
Editora: Bertrand Brasil
Esta é a história de Grace Winters, professora de matemática aposentada de 72 anos que leva uma vida aprisionada pelo luto. Quando recebe o comunicado de que herdou a casa de uma antiga amiga, a ex-professora parte para Ibiza com passagem só de ida e sem um plano.
