Marcada pelo desaparecimento e abandono de sua mãe quando ainda era um bebê, June Farrow foi criada por sua avó em uma pequena cidade nas montanhas de Blue Ridge. Juntas, elas cuidaram da famosa e centenária fazenda de flores, um legado passado de geração em geração pelas mulheres Farrow. No entanto, assim como a fazenda, June também herdou algo sombrio: uma maldição familiar que sempre pairou sobre sua linhagem e moldou sua vida de formas que ela ainda não compreende totalmente.
Durante os últimos dias de vida da avó, June testemunhou seus delírios, atribuindo as visões da matriarca à loucura que sempre assolou as mulheres Farrow – um destino inevitável que parecia estar cada vez mais próximo dela. Frequentemente sua avó falava sobre uma porta misteriosa que aparecia do nada e que precisava ser atravessada.
Para June, essas histórias eram apenas o resultado de uma mente beirando à loucura. Mas, há um ano, sua própria realidade começou a desmoronar. Visões estranhas, sons inexistentes e um labirinto de memórias desconhecidas começaram a assombrá-la. Até que, um dia, a porta finalmente apareceu para ela, e June temeu estar seguindo os mesmos passos da loucura de sua avó.
“Meu futuro nunca havia sido um mistério. Eu sabia desde muito nova o que me esperava, meu próprio fim Tão incisivo e visível ao longe ponto final por isso eu nunca me apaixonaria. Nunca teria um filho. Nunca viria sentido nos sonhos que enchiam os olhos de todos ao meu redor. Eu tinha somente uma opção na minha vida simples: me certificar de que a maldição das mulheres da família Farrow terminasse comigo.”
Determinada a não sucumbir ao que acreditava ser insanidade e movida pelo desejo de descobrir o que realmente aconteceu com sua mãe, June resolve seguir as instruções de uma carta deixada por sua avó. Na próxima vez que a porta surgir, ela não terá medo e irá atravessá-la.
A narrativa desse livro me pegou desprevenida, especialmente porque amo histórias envolvendo viagens no tempo. A história de June me lembrou muito a de Outlander, que traz elementos como destinos entrelaçados, uma jornada para outro tempo, e uma paixão arrebatadora que desafia a lógica temporal. O romance de June com Eamon é muito bem construído e cheio de emoções, cercado pelo mistério de seu próprio desaparecimento, o abandono de uma filha pequena e a vida que ela deixou para trás sem explicações.
A compreensão, o amor e o carinho que existem entre Eamon e June são simplesmente lindos. A relação dos dois é construída de maneira delicada e profunda, mostrando como o amor verdadeiro pode atravessar barreiras de tempo e espaço e, que, mesmo em meio a tantas incertezas e desafios, eles encontram um no outro um porto seguro.
“Nós nos seguramos um no outro, e foi a primeira vez, desde que atravessei aquela porta, que não me sentia como se estivesse partido ao meio. […] O que quer que isto fosse, não era simples. Eu estava tentando juntar as peças, organizá-las em uma linha do tempo cronológica que contasse uma história que eu conseguisse compreender. Contudo, embora as peças viessem, não chegavam rápido bastante nem em ordem. Eu abri a porta vermelha assim como todas as outras Farrow fizeram. não sabia que isso mudaria a minha vida para sempre. E, em meu caso, tinha mudado duas vezes. Agora havia mais uma escolha a fazer, e a única pessoa que poderia fazer era eu.”
Contudo, senti que a autora dispersou muito tempo nos traumas desse romance e deixou de lado uma exploração mais ampla das outras mulheres Farrow e suas travessias pelas portas. Esse detalhe torna algumas partes da narrativa repetitivas, como se girassem em círculos, sem avançar e torna um pouco confuso as conexões do passado com o presente e o futuro, já que todos estão entrelaçados de alguma forma.
Mas ainda assim, a ideia de June relembrar vidas que ainda não viveu é fascinante! Essas memórias ocultas ajudam a explicar a “loucura” atribuída às mulheres Farrow, revelando que, na verdade, tudo não passava de fragmentos de outras linhas do tempo que elas habitavam, habitam ou habitarão.
“Esta não é uma fenda no espaço-tempo. é mais apavorante do que isso. É uma emenda escondida, quanto mais imóvel fico, deixando que ela se desenrole, mais nítida se torna.“
O dom das mulheres Farrow é simplesmente magnífico. Imagine ter o poder de reescrever seu futuro e alterar o passado, moldando a história à sua vontade? É uma habilidade tão fascinante quanto perigosa, pois cada decisão tomada pode mudar pequenos – ou grandes – fragmentos de toda uma vida. E, claro, todo dom tem um preço: elas só podem carregar consigo as memórias de uma única vida. Todas as outras, com seus amores, dores e conquistas, são apagadas, como se nunca tivessem existido.
Por fim, o mistério que envolve o desaparecimento da mãe de June, a morte de um padre e o motivo de ela ter sido levada a uma linha do tempo pela qual já havia passado é extraordinariamente bem escrito, tão bem escrito, que apesar de ter descobrido o plot, o final ainda sim me surpreendeu.
Início da Leitura: 17/11/2024
Término da Leitura: 14/11/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral
Adrienne Young
Ano: 2024
Páginas: 300
Idioma: português
Editora: Harlequim
June Farrow sabe que pertence a uma linhagem de mulheres marcada por uma maldição, mas para conhecer sua história, abraçar seus desejos e evitar a repetição eterna de algumas maldições – fantásticas, mas também sociais -, ela precisa transpor uma longa trajetória de silêncios familiares e cruzar certas portas.