Takako levava uma vida relativamente simples, com um trabalho estável e uma paixão ardente com Hideaki, seu senpai na empresa onde trabalhava, desde o primeiro dia que o viu. Feliz em sua bolha, Takako imaginava o futuro com Hideaki. Imaginava alianças, filhos, domingos preguiçosos e uma vida compartilhada. Até que, um dia, sem aviso, ele a chama para conversar.
Com a tranquilidade de quem dá uma notícia banal, Hideaki diz que irá se casar no próximo ano. O coração de Takako salta. Ela sorri, já se imaginando de noiva, como se tudo tivesse finalmente se encaixado. Mas então ele completa: vai se casar sim… mas não com ela. Com outra mulher. Sua namorada, a oficial, a verdadeira, a que ela sequer sabia que existia.
Takako não consegue acreditar. O chão desaparece sob seus pés, e a vida que ela cuidadosamente vinha moldando desmorona em silêncio. De repente, o mundo parece não fazer mais sentido. Ela perde o apetite, o interesse pelas coisas simples, a vontade de sair de casa. Afunda-se numa tristeza profunda, uma espécie de luto por algo que nunca foi real, mas que, para ela, era tudo.
Tomada por esse vazio, Takako toma uma decisão drástica: largar o emprego e se recolher em seu quarto, como se pudesse, ali dentro, desaparecer com a dor.
Após anos sem se falarem, seu tio Satoru entra em contato. Ele soube, por meio da mãe de Takako, da situação delicada em que ela se encontrava: desempregada, prestes a perder o aluguel do apartamento e isolada em um mundo cinza do qual parecia não querer sair.
“Eu tinha alguém cuidando de mim. Sim, havia alguém que se preocupava comigo, alguém disposto a me defender. Até pouco tempo atrás, eu me sentia sozinha neste vasto mundo, mas agora percebia que havia alguém tão próximo de mim, alguém que me protegia se importava. Essa descoberta me enchia de alegria.”
Satoru lhe faz uma proposta irrecusável, a tábua de salvação de Takako: mudar-se para Tóquio e ajudá-lo no pequeno sebo que ele administra com tanto carinho, a Livraria Morisaki. E assim, mesmo sem saber exatamente o que a esperava, ela aceita. Parte com suas malas e um coração ainda ferido, rumo a uma pequena livraria, escondida entre as ruas de Jinbōchō, onde talvez, só talvez, começasse a reencontrar a si mesma.
“Nunca vou esquecer dos dias que passei ali. É que foi aquele sebo de livros que me mostrou como começar a viver de verdade. Sem os dias que passei ali, minha vida não seria repleta de cores, de sabores, das mais diversas sensações; teria sido insípida, monótona e solitária.”
Eu namorava esse livro há meses, curiosa, ansiosa, esperando o momento certo. E o veredito é: não me arrependo nem um pouco. Não há muito o que dizer sobre “Meus dias na Livraria Morisaki” no sentido tradicional de narrativa ou grandes reviravoltas. Porque esse não é um livro feito para grandes acontecimentos, e sim para pequenos respiros.
É uma história de cura sutil, leve, quase silenciosa. É um tipo de leitura que não exige demais, mas entrega exatamente o suficiente. Ideal para curar uma ressaca literária ou suavizar um dia ruim. Sabe?
Nesse sentido, não é possível criar um vínculo mais profundo com os personagens. A narrativa não nos leva até o fundo dos sentimentos de cada um, então acabamos observando tudo de fora, quase como quem assiste à vida passar pela vitrine de uma livraria. É bonito, é acolhedor, mas distante. A gente compreende as dores e os momentos, mas não chega a sentir com eles.
“Amar é maravilhoso, por favor, não se esqueça disso. As Memórias de amar alguém nunca desaparecem completamente do coração. Elas continuam aquecendo os corações das pessoas para sempre.”
Mas o que mais me encantou foi a forma como a narrativa mostra, com delicadeza, como os livros podem ser uma rota para o reencontro com a alegria, mesmo que você não seja um leitor voraz. Às vezes, tudo o que precisamos é nos permitir mergulhar em outros mundos para, quem sabe, voltar ao nosso com um pouco mais de cor.
Apesar de ser uma história curta, achei que o livro teve um bom desenvolvimento, inclusive com um pequeno mistério que, no fim, dá margem para uma possível continuação. Não sei se ela seria necessária, talvez o encanto esteja justamente na simplicidade daquilo que foi contado. Mas que foi o suficiente para trazer mais dinamismo para a história.
Início da Leitura: 30/01/2025
Término da Leitura: 30/01/2025
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral

Satoshi Yagisawa
Ano: 2023
Páginas: 176
Idioma: português
Editora: Bertrand Brasil
Takako é uma jovem de 25 anos que levava uma vida relativamente tranquila. Até que seu namorado, Hideaki, o homem com quem ela esperava formar uma família, anuncia que vai se casar com outra pessoa. De repente, a vida de Takako começa a desmoronar.