Nos Alpes suíços, um hotel de luxo guarda um segredo há anos trancado atrás de portas e corredores discretos. Um quarto, o 622, foi riscado da numeração oficial e substituído por uma numeração ainda mais estranha. Ninguém comenta sobre ele. Nenhum hóspede sabe o que aconteceu ali. Mas todos que conhecem o hotel intimamente sabem: um assassinato aconteceu entre aquelas paredes, durante o encontro anual do poderoso Banco Ebezner. Contudo, o crime, até hoje, não foi resolvido.
É nesse mesmo hotel que o escritor em luto pela perda de seu editor e mentor e pelo término recente de um breve relacionamento com uma mulher que conheceu por acaso durante uma corrida no parque, decide se hospedar para tirar umas férias do mundo, buscando silêncio, distância e talvez um pouco de cura.
Sentado na varanda de seu quarto no hotel, imerso em devaneios e tentando encontrar algum conforto na solidão, ele é interrompido pela presença sutil, mas marcante, de Scarlett, sua vizinha de quarto. Encantado não apenas pela beleza, mas pela naturalidade e intimidade da conversa que ela conduz, o escritor se vê imerso em uma curiosidade por querer conhecer melhor aquela mulher com quem trocou apenas algumas palavras.
“Porque o riso é mais forte que tudo, mais forte até que o amor e as paixões. O riso é uma forma inalterável de perfeição. É algo de que nunca nos arrependemos, que sempre vivemos plenamente. Quando termina estamos sempre satisfeitos, Gostaríamos demais, mas não exigimos. Até a lembrança do riso é sempre agradável.”
Esse encontro casual, entre o luto e o tédio, dá início a uma parceria inusitada: juntos, movidos por uma curiosidade literária, que logo se transforma em uma obsessão de entender o que se esconde por trás dos corredores silenciosos do hotel, decidem investigar o mistério que envolve o assassinato jamais resolvido no enigmático quarto 622, que por coicidência ou não, é o quarto onde Scarlett está hospedada.
A construção narrativa do autor me lembrou muito os clássicos de Sherlock Holmes — especialmente quando o famoso detetive recria, em sua mente, a cena do crime com tanta precisão que parece entrar numa nuvem de memórias e possibilidades. Gostei muito da forma como o autor usa certos gatilhos — uma última palavra ou frase da cena presente — para nos transportar diretamente para o passado, reconstruindo, peça por peça, a história de Macaire, o banco Ebezner e, claro, o assassinato que aconteceu no quarto 622.
Sobre os personagens, não consegui gostar de Scarlett. Achei a personagem excessivamente intrusiva e sem noção de espaço. Ela e o escritor se conheceram por acaso na sacada de um hotel e poucas horas depois, Scarlett já estava decidindo por conta própria que ele deveria investigar o assassinato ocorrido ali anos antes, com o intuito de ajudá-lo a escrever um livro, que inclusive, também é uma ideia apenas dela, já que ele estava de FÉRIAS!
Me incomodou demais a forma como ela rapidamente começou a cobrar presença do escritor, a atenção e o envolvimento emocional, como se estivessem em um relacionamento. Sendo que, até então, o que existia entre eles era apenas curiosidade compartilhada sobre o crime, nada mais. Quanto a esse fato, achei o escritor sem atitude e sem voz.
Em relação a narrativa do misterioso assassinato, Macaire é um personagem movido apenas, egocentricamente, por ambição. Ele busca constantemente a grandeza, o reconhecimento, a superioridade. E ele acaba que nessa sede por destaque, acaba ficando cego para as próprias atitudes e as consequências das negociações que conduz, querendo se destacar a qualquer custo.
Já Anastasia é o oposto de decidida, completamente à deriva de tudo que está acontecendo. Ela é uma personagem que parece nunca saber o que quer de verdade, sempre deixando que sua mãe tome decisões por ela, sem nunca se impor, e suas atitudes são uma constante busca pela aprovação da matriarca. Ela afirma não ser interesseira, mas suas atitudes acabam contradizendo suas palavras — O TEMPO TODO. Suas ações soam hipócritas, o que a torna uma figura difícil de admirar.
“Ela quase nem hesitou. Não foi seu coração que respondeu, e sim o medo de ficar sozinha e, sobretudo, sua necessidade de gentileza, uma necessidade visceral de ser amada. Ela já sofrera muito, depois de anos sendo forçada pela mãe arranjar um marido, depois dos fracassos sucessivos, ela queria ser bem tratada e viver em paz.”
No geral, o livro prendeu muito minha atenção pela forma engenhosa como a história é montada, pelos saltos temporais bem amarrados e pelo clima de mistério elegante e quase teatral. A história é um completo quebra-cabeça cheio de peças sutis, onde cada personagem tem uma camada escondida que faz você ficar alerta a todo momento, sem saber o que esperar nas próximas páginas.
Início da Leitura: 02/02/2025
Término da Leitura: 22/02/2025
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral

Alison Espach
Ano: 2020
Páginas: 526
Idioma: português
Editora: Intrínseca
Certa noite de dezembro, um assassinato ocorre no sofisticado hotel Palace de Verbier, nos Alpes Suíços. O criminoso escapa da cena e a investigação policial jamais é concluída. Alguns anos depois, um escritor em férias hospeda-se no hotel e a descoberta de que ali acontecera um crime, é claro, leva-o a mergulhar de cabeça na resolução do caso.