Kate, Rosa, Dee e Liv são quatro amigas inseparáveis, unidas pela faculdade, mas principalmente pela dor de se ter um coração partido. Cada uma à sua maneira, elas enfrentam os altos e baixos do amor, da vida adulta e das escolhas que nem sempre são tão fáceis de sustentar.
Kate é professora de história e ama o que faz. Ama também seu namorado, Chris, com quem vive há anos. Eles se conheceram em uma festa à fantasia e, desde então, são o tipo de casal que parece ter saído de uma comédia romântica. Estão juntos há nove anos, mas depois que passaram a morar juntos, a convivência começou a pesar. A rotina, as pequenas diferenças e os atritos constantes passaram a ocupar mais espaço do que os carinhos e as declarações. Ainda assim, Kate acreditava neles. Acreditava na força que o amor tinha para sustentar o relacionamento. Até que um dia, Chris chegou em casa e, sem grandes explicações, disse a frase que ela jamais imaginou ouvir: “Isso não está funcionando.”
Já Rosa é uma clássica romântica incurável. A última dos rolês a ainda acreditar em alma gêmea, serenatas e bilhetes apaixonados. Ela escreve para um jornal e tem uma coluna só dela, onde compartilha dicas e relatos sobre encontros à moda antiga — flertes antes do primeiro beijo, cartas escritas à mão, a arte da conquista sem pressa. Mesmo nesse mundo acelerado de likes e swipes, Rosa segue firme em sua fé no amor verdadeiro. Mas, por dentro, ela se pergunta todos os dias se seu ex, aquele que a trocou por outra, ainda lê suas colunas. Será que sente saudade? Será que pensa nela? Rosa foi traída, teve um amor não correspondido, mas ainda imagina como teria sido se os dois tivessem conseguido viver aquele romance dos sonhos.
Dee, designer gráfica, leva uma vida moderna e descolada. É ativista, feminista, criativa e cheia de atitude. Sua mãe, uma mulher igualmente fora do padrão, a ensinou a ser forte mesmo nos momentos mais vulneráveis. Mas, quando o assunto é amor, Dee ainda busca entender suas próprias fragilidades. Ela terminou com sua namorada — um relacionamento intenso e bonito, mas que a fazia se sentir insuficiente. Mesmo sabendo que fez o certo, ela se vê mergulhada em um luto difícil de nomear. Como superar um amor que parecia tão verdadeiro, mas que não bastava?
Por fim, Liv é assessora de imprensa e, aparentemente, está vivendo o sonho. A vida glamourosa em Londres, longe do interior onde cresceu com os pais, é tudo o que ela sempre quis. Ou pelo menos, achava que queria. Na prática, o custo de vida alto, o salário que mal cobre o aluguel e a tentativa de provar para si mesma (e para a família) que consegue se virar sozinha têm cobrado um preço emocional alto. Liv sente o peso da culpa por não querer depender dos pais, mesmo quando tudo parece desmoronar ao seu redor. Ser independente sempre foi seu objetivo — mas ninguém disse que seria tão difícil.
Quatro mulheres. Quatro corações partidos. Quatro formas de tentar encontrar o caminho de volta para si mesmas. Mas no fim, elas descobrem que o coração pode até partir… mas a gente aprende a colar os pedaços — às vezes sozinha, às vezes com a ajuda de amigas que viram família.
“A primeira lição sobre coração partido é que coração é a palavra errada. Porque a dor não está no seu coração – nem mesmo no coração-dentro-da-sua-cabeça. A dor física de um coração partido é no estômago. Tira o seu ar, sua fome, sua força, seu controle. Sua vida foi partida no meio, e seu corpo sente como se tivesse sido partido também. Então proteja sua barriga. Respire fundo e saiba que essa dor vai passar. Seu estômago está protegido, sua mente é outro assunto.”
Liv, pra ser bem sincera, me pareceu meio “bleh”. Seca, talvez? Não sei. Parece que ela tem medo de sentir amor de verdade, de assumir que ama Nikita, como se sempre tivesse que dar um passo atrás antes de admitir qualquer sentimento mais profundo. Fica arrumando desculpas, racionalizando tudo, tentando convencer a si mesma de que as coisas boas não são tão boas assim. Mas no fundo, tudo o que ela quer é estar com a Nikita. Isso fica tão evidente, e ainda assim ela se sabota. Fiquei com vontade de sacudir a personagem e dizer: “vai viver isso logo!”
Apesar de ter amado muitas partes do livro, senti falta de uma divisão mais equilibrada entre as histórias de Rosa, Dee e Liv. A narrativa acaba se concentrando muito na jornada da Kate, que, sim, está passando por uma dor profunda com o término, mas os conflitos da Rosa, da Dee e da Liv também mereciam mais espaço. O coração partido não vem só do fim de um namoro… vem da rejeição, da dúvida, da culpa, do medo de não ser suficiente… e o livro tinha tanto potencial para explorar esses outros lados com a mesma profundidade.
Faltou esse equilíbrio para tornar a leitura ainda mais tocante, sabe?
“O choro tem muitas camadas. Quando você chora por um coração partido – quando você realmente chora de verdade -, não só fica chocada com a natureza visceral do choro, mas também se odeia por chorar no exato momento em que começa.“
E confesso que no começo achei o livro um pouco confuso, meio lento, como se a história estivesse tentando encontrar o próprio ritmo. A autora muda bastante entre os pontos de vista das personagens, e isso acaba deixando tudo meio embaralhado até você entender quem está narrando, de quem são os pensamentos, o que está acontecendo exatamente. Não existe uma divisão clara entre as vozes, então no início é beeem confuso acompanhar essa troca constante.
Mas quando finalmente peguei esse ritmo e entendi as divisões, a leitura começou a fazer muito mais sentido. A autora foi trazendo momentos tão específicos, tão reais, que eu só conseguia pensar: “nossa, parece que ela tá contando exatamente o que aconteceu comigo!” A identificação bate forte, BEM FORTE MESMO. As dores, as inseguranças, as recaídas, a vontade de mandar mensagem pra quem não deveria… é tudo muito real. É como se alguém tivesse escrito um manual com tudo aquilo que a gente sente, mas não sabe explicar e deixado ali, pra gente abrir quando o coração resolve se partir de novo.
“É assustador. É doloroso. Às vezes, um passo de cada vez fará com que você retroceda, e não avance. Está tudo bem. Se ame por isso, não apesar disso. Divida em pequenas etapas. Você consegue. […] Essa era a natureza das cicatrizes. A forma como a ferida cicatrizava em algo mais duro, mas resistente. A maneira como a vulnerabilidade ganhava força, mas perdi a flexibilidade.“
Nesse sentido o livro ganhou forma, ganhou sentido, e me ganhou também. Completamente. É impossível não se identificar com algum dos momentos, alguma das dores, alguma das reflexões. A gente percebe que não está sozinha e nunca esteve, pois com certeza alguém já passou pelo mesmo. Que alguém, em algum lugar, também chorou, também se questionou, também quis mandar uma mensagem que não devia e talvez tenha mandado.
Ler esse livro foi como ver tudo de um outro ângulo. Foi parar, fechar a página e pensar: “caramba, eu já passei por isso… e me senti exatamente assim.” Não é louco como os livros fazem isso com a gente?
Enfim, “Manual do coração partido” é um livro a ser guardado, como um diário. Não porque ele tenha todas as respostas, mas porque, de alguma forma, ele entende as perguntas. E sempre lembre: um coração partido não é linear. Ele vai e volta, tropeça, avança, estagna… mas, no fim, aprende a bater de novo.
Início da Leitura: 15/04/2025
Término da Leitura: 18/04/2025
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral

Sarah Handyside
Ano: 2025
Páginas: 392
Idioma: português
Editora: Verus
Após o fim repentino do relacionamento de nove anos, Katie corre para seu verdadeiro refúgio: o apartamento das melhores amigas. Sem saber o que fazer nem por onde começar, Katie conta com a experiência de Dee, Rosa e Liv para aprender a superar e a sobreviver a esse momento.