Erika é uma corretora imobiliária de sucesso, reconhecida como uma das cinquenta melhores de Nova York. Além de uma carreira que ama, ela é mãe de duas filhas, Annie e Kristen, ambas já na faculdade — motivo de grande orgulho para uma mãe tão dedicada e apegada.
Na véspera do retorno das aulas, as meninas precisam pegar o trem de volta para o campus. Erika havia prometido levá-las até lá, mas, diante da oportunidade de apresentar um imóvel importante para um cliente potencial, acaba voltando atrás. A chance de fechar uma venda milionária e garantir uma comissão alta — além de subir ainda mais no ranking dos melhores corretores — fala mais alto.
Kristen, no entanto, está estranha. Agitada, ansiosa, seu comportamento chama a atenção de Annie, que logo tenta alertar a mãe. Mas Erika, preocupada com o compromisso profissional, ignora os sinais, garantindo que jantariam juntas mais tarde, como uma despedida antes da viagem das filhas.
Annie, por sua vez, esconde um segredo: foi suspensa da faculdade por um ano e não poderá voltar. Mesmo assim, decide acompanhar Kristen até o trem, preocupada com o comportamento da irmã e temendo que algo possa acontecer no caminho.
Mas Kristen sai sem avisar. Poucas horas depois, Erika telefona em desespero. Um acidente terrível ocorreu: o trem descarrilou e colidiu com um caminhão de combustível parado nos trilhos. O trem em que Kristen havia embarcado.
“Por alguma razão, instinto talvez, eu paro. Na tela, aparecem as imagens. Fumaça E destroços cobrindo uma área urbana. Na legenda se lê: trem da manhã descarrila nos arredores da Filadélfia. Fico paralisada e leva a mão ao pescoço, instantaneamente sóbria. — As minhas meninas — digo, enquanto sinto a vida ser drenada de mim. — Elas estavam nesse trem.“
Consumida pela culpa, Annie acredita que deveria ter ido com a irmã, que talvez pudesse ter evitado a tragédia. Ao mesmo tempo, sente que a mãe a culpa pela morte de Kristen. Erika, por sua vez, se tortura por ter quebrado sua promessa, sem conseguir lidar com a dor do luto. Incapaz de olhar para Annie sem se afundar em arrependimento, acaba se afastando. A culpa, pesada e silenciosa, separa as duas — cada uma lidando sozinha com sua dor.
“Não vejo nada. Mas ouço. É um som estridente que fica se repetindo em um ritmo constante: a culpa é sua. Kristen estaria viva se você tivesse mantido sua promessa. […] Em vez de ajudá-la a chegar na faculdade como havia prometido, você a ignorou. Por sua causa, minha irmã está morta.“
O que mais me impressionou foi como o mistério se desenrola dentro desse turbilhão emocional, através de enigmas e frases enigmáticas que guiam Erika exatamente para onde precisa olhar. Ela é levada a revisitar memórias, observar detalhes nas entrelinhas, e, acima de tudo, a se libertar.
Gostei especialmente da forma como, mesmo em meio ao desespero e ao medo de que uma esteja decepcionada com a outra, o livro é permeado por mensagens otimistas, muitas delas tiradas de um caderno que é tradição da família Blair — passado de geração em geração, começando pela avó de Erika. Sempre que as coisas pareciam ruir, esse caderno lembrava que algo bom pode nascer do que é ruim.
O livro vai muito além de uma história com toques de romance e mistério. Ele fala sobre culpa, perdão, amor, e sobre como, quando não trabalhada, a culpa nos paralisa, nos deprime e nos impede de viver plenamente. Nos faz acreditar que merecemos carregar o peso da infelicidade, nos prendendo em versões de nós mesmos que já não refletem quem somos — apenas quem deixamos de ser.
“Tenho estado atolado em culpa — não pelos últimos seis meses, mas pelos últimos 30 anos. Me afastei tanto do meu verdadeiro eu que Mal consigo me lembrar da garota de coração leve que já fui, uma alma intocada pela vergonha. E, pela primeira vez em anos, quer encontrar de novo aquela garota.“
Fiquei especialmente tocada pela incapacidade de Erika de conversar com Annie sobre o que aconteceu. Ela teme ouvir da filha as mesmas palavras que ecoam em sua mente: raiva, ressentimento, culpa. Annie, por sua vez, acredita que a mãe a culpa pela morte da irmã. As duas, presas em suas suposições, se distanciam sem ao menos saber se aquilo que sentem uma pela outra é real.
Lori Nelson Spielman constrói um mistério tão bem amarrado que, em muitos momentos, senti que estava lendo um suspense. Mas é justamente o modo como o mistério se entrelaça com emoções tão profundas que torna a narrativa tão impecável. Não encontrei nenhum ponto fraco — tudo se conecta, tudo tem um propósito.
E se Krissie não tivesse entrado naquele trem ponto de interrogação e se as fotos que eles identificaram na verdade não fossem de Krissie?
Mesmo quando o mistério deixa de estar no centro, ele abre espaço para o verdadeiro foco da história: a culpa de Erika e Annie, a esperança de reencontro, o perdão que Erika precisa oferecer a si mesma, e a redenção silenciosa de uma mãe em busca de libertação. A sensação constante de que Kristen ainda vai aparecer, talvez para dar uma lição de amor em todos, nos acompanha até o fim — e conforta.
“As lágrimas que venho reprimindo por quase toda minha vida se libertam. Dobro o corpo, agarrando minhas costelas, e solto as rédeas de décadas de sofrimento reprimido. Em algum lugar a distância, o som de um animal ferido ecoa na baía. Percebo que sou eu.“
Eu estou completamente apaixonada por esse livro. Pela escrita delicada, pelos personagens imperfeitos e humanos, e por tudo que ele me fez sentir. As Estrelas Esperam no Céu foi direto para a minha lista de favoritos. Uma história linda, sensível, e livre de qualquer objeção. Ganhou meu coração por inteiro.
Início da Leitura: 27/04/2025
Término da Leitura: 27/04/2025
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral

Lori Nelson Spielman
Ano: 2024
Páginas: 350
Idioma: português
Editora: Verus
Erika Blair tem tudo o que poderia desejar: uma carreira de sucesso como corretora imobiliária em Nova York e duas filhas lindas. Mas ela é jogada na escuridão mais profunda quando sua filha Kristen morre em um acidente de trem. Erika se sente devastada pela culpa.