Genevieve Mercier, agora conhecida como Eva Mercy, teve uma infância conturbada, marcada por constantes mudanças de cidade devido aos relacionamentos instáveis de sua mãe, Lizette. Cada novo homem prometia a elas uma vida deslumbrante com todas as despesas pagas, mas Lizette, sempre acreditando que enfim havia achado uma estabilidade na vida, carregava sua filha para uma vida cheia de incertezas, o que significava que Genevieve nunca tinha um lugar fixo para chamar de lar.
Shane Hall, por sua vez, vivia passando de reformatório em reformatório, arranjando confusões para chamar atenção. Desde que sua mãe morreu em um acidente de carro enquanto o levava ao hospital por conta de um braço quebrado, Shane começou a quebrar o próprio braço como forma de receber atenção e se tornar o “garoto temido” em todas as escolas. Esse comportamento autodestrutivo o levou a acreditar cada vez mais que não merecia amor, carinho ou qualquer sentimento bom destinado a ele, até que Genevieve apareceu em sua vida.
Com infâncias difíceis, Genevieve e Shane se conheceram em uma escola na cidade de Washington. Seus traumas, histórias de vida problemáticas e o anseio por serem notados os aproximou, e juntos começaram a se drogar e a consumir um ao outro, aumentando seus vícios e tentando suprir a falta de amor que ambos sentiam.
Hoje, Eva Mercy é uma escritora best-seller de livros de fantasia eróticos, divorciada, mãe solteira e cada vez mais pressionada por sua agente e fãs para escrever o décimo quinto livro de sua série “Amaldiçoada”, enquanto cuida de sua filha de 12 anos, Audre.
“Era irônico ganhar a vida escrevendo sobre sexo. Eva não conseguia lembrar quando for a última vez que ficara pelada na frente de alguém, morto ou vivo. entre escrever, fazer turnês, ser mãe solo de um tornado adolescente e lutar contra uma doença crônica que ia de controlável a debilitante, ela ficava esgotada demais para viver romances com pênis da vida real.”
E, assim como Eva, Shane Hall tornou-se um escritor e romancista recluso e enigmático, conhecido mundialmente por suas obras premiadas, lutando contra o alcoolismo após várias prisões por infrações no trânsito.
Quinze anos depois de terem se afastado por causa de uma noite em que Genevieve quase entrou em coma após uma overdose, Eva e Shane se reencontram em um evento para escritores negros. Os sentimentos guardados por tantos anos começam a ressurgir, trazendo memórias que Genevieve fez questão de deixar no passado para proteger seu futuro e o de sua filha, garantindo que Audre pudesse ter uma vida melhor e livre das sombras de seu passado.
“Sete Dias em Junho” apresenta uma narrativa romântica com cenas 18+ com potencial, mas que falha criticamente em explorar os temas que propõe de forma profunda.
Apesar da promessa de uma história “sexy e arrebatadora”, o elemento “hot” que a autora inseriu na história não serviu para nada além de criar um clima superficial entre os personagens. As cenas quentes entre Eva e Shane pareceram mais como encontros hormonais impulsionados por lembranças de um passado cheio de drogas e bebidas, do que por uma verdadeira conexão emocional, por amor.
“Mas isso importava? Talvez ele nunca alcançasse essa estabilidade emocional. E Eva com certeza não era exatamente um exemplo de saúde mental. Talvez eles sempre fossem desastres — mas não poderiam se apoiar e crescer juntos? Ninguém era perfeito! E talvez isso fosse o verdadeiro amor entre adultos. serem destemidos o suficiente para se manter em perto, não importasse quão catastrófico o mundo viesse a se tornar. Amando um ao outro com ferocidade suficiente para acabar com os medos do passado. Bastava se fazer presente.”
A autora pareceu querer abarcar todos os temas delicados possíveis – drogas, alcoolismo, depressão, automutilação, tentativa de suicídio, abuso – mas tratou esses assuntos de forma extremamente rasa. Poderia ter aprofundado mais na dificuldade de ser uma pessoa negra, escritora, e a imposição das regras brancas e elitistas no mercado editorial e cinematográfico. A história de Eva com sua mãe, Lizette, teria oferecido uma base muito mais rica do que sua relação problemática com Shane.
A história das mulheres Mercier, negras, marginalizadas, mal compreendidas, chamadas de bruxas, amaldiçoadas e que sofriam até mesmo exorcismos pelo medo dos demais homens que não entendiam a situação de suas doenças, poderia ter sido retratada com mais detalhes, mostrando suas lutas e resiliência diante da ignorância e do medo, mas foi explorado de forma muito pobre no final da história.
A autora deixou de lado um potencial narrativo que poderia ter acrescentado camadas de complexidade à trama, sem precisar usar inúmeros temas delicados para dar peso à história.
Outro ponto fraco foi a caracterização de Audre, a filha de Eva. O uso excessivo de termos pop e a forma como foi adultizada para sua idade me pareceram forçados. Apesar de ser criada para ser forte, muitas vezes Audre se mostra frágil e solitária em seus sentimentos, vestindo uma fantasia de adolescente cool apenas para ser aprovada pela mãe, já que Eva é o seu exemplo de mulher forte e empoderada, além de sua melhor amiga.
Shane tenta a todo momento se salvar acreditando apenas que ajudando os outros é suficiente para que se sinta bem consigo mesmo e que dê a ele a sensação de ser uma pessoa boa, sem problemas, enquanto ele próprio luta com seus demônios interiores e tenta se manter em uma vida limpa, sem drogas e sem álcool.
“Ele a tinha feito chorar. Era o que sempre fazia, destruía as pessoas que mais amava, as coisas que o faziam mais feliz. Vê-la tão chateada novamente, sabendo que era a causa de tudo aquilo, desencadeou um antigo pânico enraizado demais para ser removido. Ele precisava consertar essa situação. Não podia permitir que aquela fosse a última vez que se veriam.”
Ele se afunda em seu altruísmo como uma forma de escapar de seus próprios problemas, usando a ajuda aos outros como uma máscara para esconder suas próprias fraquezas. Ele acredita que, ao se redimir pelos seus atos passados, poderá finalmente encontrar a paz que tanto busca.
Eva, por outro lado, após sua “quase overdose”, coloca a culpa de seus traumas na doença, na mãe, em Shane e até mesmo na própria filha, mas nunca olha para si mesma para entender que suas frustrações foram provocadas por ela mesma. Ao deixar de lado seus sonhos de escrever o livro que gostaria, ela optou por ganhar dinheiro suficiente para criar uma vida perfeita para ela e sua filha, Audre.
Sua necessidade de controle e perfeição a levou a escrever uma série de sucesso, mas também a aprisionou em um ciclo de insatisfação e falta de autenticidade.
Ambos estão presos em suas próprias prisões emocionais, incapazes de confrontar os verdadeiros motivos de suas angústias. Shane precisa aprender que sua bondade para com os outros não pode apagar suas próprias dores, e Eva precisa perceber que a perfeição que ela busca é uma ilusão que a impede de viver autenticamente.
Início da Leitura: 06/08/2024
Término da Leitura: 08/08/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral

Tia Williams
Ano: 2024
Páginas: 350
Idioma: português
Editora: Verus
Eva Mercy é mãe solo, escritora best-seller de livros eróticos e se sente muito pressionada por todos os lados. Shane Hall é um romancista recluso, enigmático e premiado que, para surpresa geral, aparece em Nova York.