Athena Liu é uma escritora de sucesso, adorada por fãs no mundo todo, com contratos de publicação de vários livros em uma grande editora, além de inúmeros mestrados, indicações a prêmios e históricos em um currículo tão extenso quanto seus pagamentos. June Hayward escreveu apenas um livro, vendido para uma editora independente que faliu meses antes de ser publicado e depois para uma segunda onde suas expectativas não passaram apenas de um bom cachê adiantado e um romance sem interesse pelos leitores.
Amigas por acaso desde a faculdade, June se prepara para ir comemorar a nova conquista de Athena, um contrato de direitos audiovisuais com a Netflix, mais um motivo para decolar rumo ao estrelato literário que já é um sucesso. Mas a comemoração acaba se tornando um acidente quando Athena se engasga com um pedaço de panqueca e o futuro de uma autora best-seller vira uma história trágica com um final nada brilhante.
Atordoada com aquele momento e sem saber como reagir, June se vê entrando no quarto de Athena e vasculhando suas coisas até que encontra um manuscrito de um livro ainda não lançado e antes mesmo de pensar duas vezes, esconde-o em sua bolsa e vai para casa.
“Esta história será eterna. Athena será parte dela. O que mais podemos querer, enquanto escritores, do que tal imortalidade? Afinal, Fantasmas não querem ser lembrados?”
Vendo potencial no rascunho escrito por Athena e com seu agente cada vez mais apertando-a para que escrevesse um novo livro, June começa a reescrever a maior parte do manuscrito achado, usando como desculpa sua “colaboração literária” como forma de homenagem a uma história com potencial, iniciada e não-acabada, que nunca seria lançada, já que a principal idealista dele não estava mais viva.
“Sei o que você está pensando. Ladra. Plagiadora. E talvez, já que tudo de ruim sempre tem que envolver raça, racista. Escuta só. Não é tão ruim quanto parece. Plagiar é só um atalho, uma forma de trapacear quando você não consegue juntar as palavras por conta própria. Mas o que eu fiz não foi fácil. Afinal, de fato reescrevi a maior parte do livro.”
Sem remorso por plagiar a história de uma pessoa morta, June envia o manuscrito finalizado para seu agente e logo surgem contratos de grandes editoras interessadas em publicar o livro. Assinado com seu pseudônimo Juniper Song, o livro de June é recebido pelo mercado literário com críticas, fofocas e hate, até que um seguidor anônimo, usando o perfil e foto da Athena, começa a acusá-la de plágio e persegui-la nas redes sociais.
As mídias não perdoam e June se vê cada vez mais com medo da perseguição. Até onde ela estará disposta a proteger seu vergonhoso segredo e manter o sucesso que acredita merecer?
“Já fui ninguém na internet antes, quando precisava me apegar às duas únicas menções que recebia no Twitter por semana para conseguir uma dose de serotonina. Mas eu ainda não tinha percebido que mesmo se você tiver o mundinho literário na palma da mão, ele ainda pode se esquecer de você em um piscar de olhos.”
“Impostora” tinha todo um potencial na premissa, mas entregou bem menos do que eu esperava, considerando que o livro é de suspense. June é a representação perfeita da frase “o sucesso subiu à cabeça” e é uma personagem que quer se manter sob os holofotes a todo momento, criticando quem é melhor que ela, se sentindo superior e merecedora de coisas que não estão ao seu alcance e menosprezando qualquer pessoa que acha inferior à ela.
June é uma pessoa completamente invejosa, falsa e que usa argumentos e desculpas implausíveis para que uma mentira seja transformada em verdade absoluta, fazendo com que ela própria não tenha que lidar com as consequências das péssimas decisões que toma ao longo do livro. A todo momento ela busca mais a aceitação e atenção de todos do que parar para usar a própria criatividade e escrever algo autoral, se valendo da tragédia e morte de uma autora para ter seu momento de palco.
É impossível criar qualquer afeição por ela durante a leitura, pois ao invés de melhorar, ela fica cada vez mais mesquinha, esnobe e com atitudes cada vez mais repulsivas e imaturas. Esses monólogos de June tornam a leitura muito cansativa e extremamente redundante, já que ela repete os mesmos pensamentos por várias e várias vezes, se auto vitimando.
Em compensação, a visão sobre o mercado editorial e seus desafios e o uso das redes sociais para discursos de ódio, são assuntos muito bem desenvolvidos. A autora traz um tema de discussão onde nos faz refletir sobre o rápido desenvolvimento das informações e como certas coisas têm se transformado em um produto como qualquer outro, que perdem em substância e ganham em circunstância.
“E eu me pergunto se essa é a parte obscura de como o mercado editorial funciona: se os livros só se tornam um sucesso estrondoso porque, em algum momento, todo mundo decidiu, sem motivo, que aquele seria o queridinho da vez.”
A representação das redes sociais e do mercado de informações rápidas também têm peso na narrativa mostrando como certas partes da internet possuem efeitos corrosivos na vida das pessoas e como o ódio se propaga de forma incontrolável, sendo propenso a pessoas que não respeitam o mínimo de integridade ao abordar assuntos delicados e tornam sua própria opinião um palco para agressões verbais a terceiros, sem se importar o mínimo com quem esteja do outro lado lendo.
Além disso, a autora usa bastante do tema de apropriação cultural e racismo, retratando uma escritora branca que alcança o sucesso que tanto queria depois de publicar um livro sobre a narrativa da experiência de pessoas asiáticas na sociedade americana, criticando e criando uma sátira ácida sobre a exploração de temas identitários.
“Acho que escrever é, em sua essência, um exercício de empatia. Ler nos permite viver a vida de outra pessoa. A literatura constroi pontes. Ela expande nosso mundo, não o diminui. E quanto à parte de lucrar, quer dizer, Será que todo mundo que escreve sobre temas pesados deveria se sentir culpado? Será que as pessoas do ramo criativo não deveriam ser pagas por seu trabalho?”
Quanto ao suspense prometido no começo do livro, a autora até consegue juntar algumas cenas e criar algo misterioso, mas esse detalhe não contrasta muito com o resto da história e no final, não achei que teve uma resolução satisfatória.
Início da Leitura: 06/10/2024
Término da Leitura: 10/10/2024
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral

R. F. Kuang
Ano: 2023
Páginas: 328
Idioma: português
Editora: Intrínseca
Quando Athena morre num estranho acidente, June rouba o seu manuscrito não publicado e publica-o como se fosse seu sob o nome ambíguo de Juniper Song. June descobre até onde está disposta a ir para proteger o seu vergonhoso segredo e manter o sucesso que acredita merecer.