Imagine que você está no fundo do poço, pensando seriamente em acabar com a própria vida… e, do nada, dentro de um elevador de um hotel chiquérrimo, uma desconhecida solta no seu colo um segredo capaz de arruinar um casamento. O que você faria? Levaria esse segredo com você pro túmulo… ou usaria ele como uma chance de mudar tudo — inclusive sua própria vida?
Phoebe é uma mulher comum, com um trabalho comum, casada com seu marido comum e vivendo uma vida comum, sem grandes acontecimentos. Apesar de sentir que sua vida é perfeita e que não poderia ser mais feliz, Phoebe sabe que tudo não passa se uma farsa.
Phoebe está infeliz. Infeliz com seu casamento, com seu marido, com a normalidade cinzenta dos dias comuns, das roupas sem graça e das conversas monótonas entre professores — já que ambos, ela e o marido, compartilham a mesma profissão. Incomodada com o fato de que ele ainda a olha, mas não a enxerga de verdade, Phoebe se vê presa a uma rotina sem cor, sem brilho. A relação se desgasta pouco a pouco, e ela começa a se sentir invisível dentro da própria vida.
Após o divórcio, em um raro momento de claridade, ela toma uma decisão inesperada. Veste o vestido mais bonito que tem no armário, calça os saltos altos que sempre guardou para ocasiões especiais — aquelas que nunca chegaram — e decide se hospedar em um hotel luxuoso que viu certa vez em um anúncio de revista, enquanto esperava uma consulta médica.
Phoebe não está ali por acaso. Ela planeja comer uma sobremesa, ouvir o CD que ela e o ex-marido encontraram na noite de núpcias, tomar o remédio do seu falecido gato e adormecer para sempre naquela cama de dossel king size, envolta pelo pôr do sol. Era seu adeus planejado.
“As portas se abrem. Último andar. Phoebe enfim chega lá. Mas, claro, não importa de verdade onde está. Ela pode estar no último andar, na frente do mar, ou no quartinho de sua casa. Não existe de verdade um lugar feliz. Porque, quando se está feliz, todo lugar é um lugar feliz. E, quando se está triste, todo lugar é um lugar triste.”
A dor que a levou até ali não era nova. Phoebe vinha tentando engravidar há tempos, mas, após várias tentativas frustradas, descobriu que seu corpo não estava pronto para uma gravidez. Algo que a fez se sentir uma estranha em seu próprio corpo. Com a verdade de que ela jamais geraria um filho, que tanto sonhava, o casamento começou a se desfazer em silêncio — mais afastado, mais frio, mais frágil. Um vazio que nenhum deles soube como preencher.
“Como arruinar um casamento” com toda certeza do mundo se tornou um dos meus livros favoritos sem muito esforço, porque a narrativa te traz para um mundo tão humano, que fica difícil não se sentir conectado com os personagens e acontecimentos mundanos que rodeiam a história.
Além de tratar sobre a auto-descoberta, o poder do amor próprio, das vontades que tentamos sufocar e dos desejos que deixamos de ouvir por tanto tempo, ele também fala sobre o difícil ato de se afastar de algo que se construiu com carinho — um casamento, um sonho, uma ideia — e sobre a coragem de se salvar quando tudo o que se quer é desaparecer e deixar as coisas se resolverem sozinhas.
Phoebe se odiava por sempre esperar que outra pessoa decidisse por ela. Era como se, em algum ponto do caminho, ela tivesse terceirizado sua própria história, esperando que alguém finalmente dissesse algo conclusivo sobre quem ela era.
Ela se apaixonou, fez um doutorado, casou-se, comprou uma casa com o marido. Tentou fertilização in vitro cinco vezes, até que, finalmente, engravidou usando um embrião deles. Mas, ainda assim, nada parecia dar certo. As conquistas que deveriam preencher começaram a parecer apenas parte de uma sequência de expectativas frustradas.
O peso do que não foi feito a sufocava: os trabalhos não corrigidos, os livros que não conseguiu escrever, as palavras engolidas, as conversas nunca iniciadas. Havia sempre uma lista invisível de coisas inacabadas, como se a vida fosse uma pilha de pendências emocionais e intelectuais.
Phoebe nunca se sentiu realmente vista. Nunca importante o suficiente para ser observada com atenção. Era como se vivesse em segundo plano, mesmo dentro da própria vida.
“Mas é assim que acontece, Phoebe se dá conta. Um momento fingindo ser incrível leva o momento seguinte fingindo ser incrível, e dez anos mais tarde ela percebe que passou a vida toda Só fingindo ser incrível.”
É uma história sobre coisas não ditas, acumuladas e varridas para debaixo do tapete até se tornarem uma bola de neve prestes a desmoronar sob a cabeça. E mesmo com essa carga emocional, a protagonista trouxe reflexões de forma tão, mas TÃO natural que me vi completamente envolvida. Amei, amei, amei cada uma delas!
A maneira como a depressão é abordada, sem romantizações, mas com sinceridade e até uma pitada de ironia, simplesmente formaram o conjunto perfeito. A protagonista, ao perceber que não queria morrer, transforma essa não-morte em um recomeço. Ela se torna destemida ao expressar seus sentimentos, sem medo do julgamento, tirando sarro de lembranças, atitudes e pensamentos — não para zombar de si mesma, mas para marcar que já não era mais aquela mulher de antes.
As interações entre os personagens me deixaram cheia de possibilidades para o final. E confesso: o plot não é grandioso no sentido convencional — e isso é justamente o que o torna tão impactante. É simples. É banal. Mas não de forma pejorativa. É humano. Tão humano que parece até que a história poderia ser a de qualquer um de nós.
E sim, confesso que achei que Phoebe fosse se envolver em um caso mais profundo durante a trama. Mas, no fim, isso não fez falta alguma porque a força que ela demonstrou nas pequenas decisões, a potência de suas atitudes, e o crescimento pessoal que ela experimenta após abandonar a ideia de tirar a própria vida… tudo isso fez dela uma das personagens mais reais e inspiradoras que já li.
Início da Leitura: 04/04/2025
Término da Leitura: 06/04/2025
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral

Alison Espach
Ano: 2025
Páginas: 352
Idioma: português
Editora: Harlequin
Precisando de um tempo para si, Phoebe resolve realizar a viagem dos sonhos a Newport e aluga um quarto em um hotel caro – só para descobrir que acabou de penetra em um casamento. Agora, tem que lidar com a noiva do casório: uma jovem rica, mimada e cheia de ilusões sobre o amor.