Verônica Nakamura é uma escritora best-seller de romances e está prestes a realizar o maior sonho de sua carreira: ver a história que escreveu ser transformada em um filme. Mas, apesar de saber exatamente o que o filme precisa para ser uma adaptação perfeita e fiel a ela e aos leitores que amam “A Trilha do Coração”, a produtora e os roteiristas com quem trabalha parecem não compreender a importância de preservar a essência da obra.
Eles querem mudar cenas, criar personagens que não existem, alterar tramas… Só que o que eles não sabem é que “A Trilha do Coração” foi inspirada em Henrique, seu noivo falecido, e Verônica não está disposta a abrir mão do que é mais precioso para ela, mesmo que isso signifique adiar ou até cancelar as gravações.
Determinado a fazer Verônica aceitar o roteiro, a produtora aposta em uma última cartada: contratar Daniel, conhecido como o “roteirista dos famosos”. Confiante em sua experiência em transformar livros em sucessos de bilheteria, Daniel aceita o desafio, mas há um pequeno detalhe que muda tudo: ele nunca escreveu um romance. E Verônica, naturalmente, não aceitaria que alguém que não entende de histórias de amor reescrevesse a história mais importante da sua vida.
“A verdade é uma só: sou apenas uma escritora de livros. Só quero contar histórias em um formato obsoleto, para um público restrito de pessoas com quem eu me identifico. Leitores solitários como eu, ávidos por sentirem algo como eu, que trocariam qualquer atividade por uma tarde preguiçosa lendo um livro na varanda, como eu.“
A única solução que Verônica vê é aceitar ser enviada, junto com Daniel, para Atibaia — uma cidade pequena que é cenário da história de “A Trilha do Amor”, longe do caos de São Paulo, onde os dois, isolados e sem distrações, precisarão trabalhar lado a lado. Entre provocações, diferenças e descobertas, eles terão a missão de finalizar o roteiro que pode transformar a história da vida dela em um filme.
E é aí que começa a magia.
“Se não der certo, sei que vou precisar viver para sempre presa nessa angústia, nesse estado constante de estar, mas não ser ponto final e vou ter que fazer as pazes com isso. Não seguir em frente nem reconstruir minha vida, apenas… Admitir derrota. Me acomodar no purgatório. Sem pressão.“
Eu estou completamente apaixonada por essa história e me surpreendi com a leveza e o tom descontraído da narrativa, isso fez a leitura fluir de forma tão natural que, quando percebi, já tinha terminado. Fechei o livro me sentindo órfã daquela interação entre a Vê e o Dani, eu queria muito mais dos dois.
E uma das coisas que mais amei foi como Ray Tavares construiu personagens profundamente humanos. Verônica está em luto há um ano; Daniel é recém-divorciado. Ambos carregam medos, frustrações, incertezas e expectativas, algo que dá um peso emocional muito palpável à história.
Gostei muito também de como o romance entre eles se desenvolve de maneira orgânica e natural. As interações começam contidas, cheias de alfinetadas divertidas (aquela típica implicância que a gente sabe que tem um fundo de “gosto de você”) e vão desabrochando de forma muito fofa conforme eles trabalham juntos.
“Até ontem, eu o odiava com todas as fibras do meu ser. Não tem como achar algo fofo, vindo de alguém que odiamos. Vindo de alguém que é ridículo. Então ele olha para mim, com uma mão na frente do rosto, incomodado pelo sol. E sorri. Simplesmente sorrir. Ridiculamente fofo.“
Além do luto, Verônica também lida com tensões familiares que influenciam muito no modo como ela age e pensa. Seus pais, em especial, queriam escrever um “roteiro de vida” para ela, definindo um caminho aceitável e socialmente aprovado, mesmo que fosse infeliz. Sua mãe, obcecada pela aparência, a criou tentando impor padrões de beleza (uma magreza que grita facilmente falta de saúde) e seu pai, sempre focado apenas em um futuro financeiro estável.
Verônica nunca quis seguir os padrões impostos pelos pais. Desde muito jovem, encontrou nas histórias e personagens que criava um refúgio seguro e uma maneira de reescrever realidades e oferecer finais felizes que, para ela, pareciam inalcançáveis fora das páginas. Fugir dos conflitos familiares se tornou quase automático, uma defesa contra os comentários ácidos sobre seus sonhos de ser escritora e sua determinação em trilhar um caminho diferente daquele que esperavam dela.
“Percebo que abri mão de muita coisa quando fui embora. Mas também me libertei de tantas outras. É um sentimento agridoce. Eu poderia ter ficado, aprendido a lidar, e talvez não me sentisse tão sozinho no mundo. Mas também poderia ter ficado e adoecido. Não tem como saber.“
Sinceramente, “O Roteiro do Amor” é um livro perfeito em toda a sua essência. Vou sentir falta de Verônica e Daniel que, com suas imperfeições, medos e doçura, conquistaram um espaço especial no meu coração. Sem dúvidas, foi meu livro de romance favorito do mês: fofo, gostoso de acompanhar, e simplesmente perfeito do começo ao fim.
Início da Leitura: 23/04/2025
Término da Leitura: 25/04/2025
Classificação final:
Escrita
Personagens
Enredo
Geral

Ray Tavares
Ano: 2025
Páginas: 294
Idioma: português
Editora: Verus
Verônica Nakamura pensou que realizaria um sonho quando vendeu para o cinema os direitos de seu livro de maior sucesso, A trilha do coração. Alguns anos e muitos roteiristas depois, ela não consegue chegar a um acordo com a produtora, que quer mudar tudo.